O que é meditação? (2)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Meditação é sentar-se sem fazer nada — não usar seu corpo nem sua mente.
Se você começar a fazer alguma coisa, ou você entrará em estado contemplativo ou estará concentrado ou executará uma ação — de toda forma, estará movendo-se para fora de seu centro. Quando você não estiver fazendo absolutamente nada, seja física ou mentalmente ou em qualquer outro nível, quando toda atividade houver cessado e você estiver apenas sendo, isto é meditação. Não é possível fazê-la, não é possível praticá-la. É preciso apenas compreendê-la.
Sempre que você conseguir, pare todo o resto e encontre tempo para apenas ser. Pensar também é fazer, concentrar-se também é fazer, contemplação é fazer. Mesmo que seja um único momento em que você não esteja fazendo nada e esteja apenas em seu centro, completamente relaxado, isto é meditação. E quando você pegar o jeito, poderá ficar
nesse estado por quanto tempo quiser. Com o tempo, poderá ficar nesse estado durante as 24 horas do dia.
Após ter experimentado esse estado de tranquilidade, então, aos poucos, você começará a fazer coisas, mantendo-se alerta para que seu ser não seja perturbado. Esta é a segunda parte da meditação. Primeiro, aprender a simplesmente ser, depois aprender pequenas ações: limpar o chão, tomar banho, mas sempre mantendo-se no centro. Depois você poderá fazer coisas mais complexas.
Por exemplo, estou me dirigindo a você, mas minha meditação não foi perturbada. Posso continuar falando, mas em meu centro não há sequer um ruído. Há apenas silêncio, silêncio absoluto.
Então a meditação não é contra a ação.
Isso não significa que você tenha que fugir da vida: você se torna o centro do ciclone. Sua vida continua e, na verdade, torna-se mais intensa, mais cheia de alegria, com
maior clareza, mais visão e mais criatividade. Ainda assim, você está nas nuvens, um observador nas montanhas, apenas vendo o que ocorre a seu redor.
Você não é aquele que faz, mas sim o que observa.
Todo o segredo da meditação está em tornar-se o observador. As ações continuam em seu nível, não há problemas. Você pode fazer coisas pequenas ou grandes. A única coisa que não lhe é permitida é perder seu centro.
Essa percepção deve permanecer absolutamente límpida, imperturbável.
A meditação é um fenômeno muito simples.
A concentração é muito complicada porque você precisa se esforçar, é cansativo. A contemplação é um pouco melhor porque você tem mais espaço para se mover. Você não está se movendo através de um pequeno buraco que irá se tornar cada vez mais estreito, como na concentração.
A concentração tem a “visão de túnel”. Você já reparou em um túnel? Visto de um lado, de onde você está olhando, ele é grande. Mas se o túnel tiver três quilômetros, o outro lado será apenas uma luz redonda e pequena. Quanto maior o túnel, menor será o outro lado. Quanto mais brilhante for o cientista, maior será o túnel. Ele precisa focar, e focar é sempre algo tenso.
A concentração não é natural para a mente. A mente gosta de vagabundear, de mover- se de uma coisa para outra. Está sempre excitada com novidades. Na concentração, a mente está quase aprisionada.
Na contemplação há mais espaço para explorar, para se mover. Ainda assim, é um espaço limitado.
A meditação, a meu ver, possui todo o espaço, a existência inteira à sua disposição. Você é o observador, pode observar toda a cena. Não é preciso esforço para se concentrar em uma coisa, nem para contemplar. Você não está fazendo nada disso, está apenas observando. É um jeito. Não é ciência, não é arte, não é trabalho — é jeito.
Você precisa, então, brincar um pouco com a ideia. Sentado no banheiro, brinque com a ideia de que você não está fazendo nada. Um dia você se surpreenderá: de tanto brincar com a ideia, ela terá acontecido, pois é algo que está em sua natureza. Basta esperar o momento certo. E como você não pode saber qual será o momento certo, continue brincando com a ideia.
Estou usando a palavra “brincar” porque sou uma pessoa pouco sisuda e minha abordagem da religião não é sisuda.
Continue brincando, aproveite todo o tempo livre. Confortavelmente deitado na cama, se o sono não vier, brinque com essa ideia. Por que se preocupar com o sono? Ele virá quando vier, não há nada que você possa fazer a respeito. Você tem esse tempo, aproveite- o. Você não precisa sentar-se na posição de lótus. Em minha abordagem da meditação, não é preciso se torturar de forma alguma.
Se você gosta de sentar-se em lótus, então faça isto. Mas os ocidentais que vão para a Índia levam seis meses para aprender a posição de lótus, e se torturam com isso. Acham que, quando tiverem aprendido a posição de lótus, terão ganho algo. Toda a índia senta-se em posição de lótus e ninguém jamais ganhou algo com isso. É apenas a maneira mais natural que eles têm para sentar-se. Em um país frio, é preciso sentar-se em uma cadeira para ficar longe do chão. Em um país quente, quem se importa com cadeiras? É possível sentar- se em qualquer lugar.
Nenhuma postura especial é necessária, nenhum tempo especial é necessário. Há pessoas que pensam que há um momento especial, mas qualquer momento é bom para a meditação. Basta que você esteja relaxado e querendo se divertir.
Se nada acontecer, não importa Não se sinta mal por isso, pois garanto a você que algo acontecera hoje, ou amanhã, ou em tres meses ou em seis meses Não vou criar nenhuma expectativa porque isso se tornará uma tensão em sua mente. Pode acontecer em qualquer dia, pode não acontecer depende de quanto você estiver se divertindo.
Sempre que você se sentir relaxado, sempre que não estiver tenso, brinque com a ideia de meditação da forma que lhe expliquei. Fique em silêncio, centrado em si mesmo, e um dia algo acontecerá.
Há apenas sete dias durante a semana, então algo poderá acontecer na segunda, na terça, na quarta, na quinta, na sexta, no sábado ou no domingo. Não há como saber. Apenas aproveite a ideia e brinque com ela tantas vezes quanto for possível. Se nada acontecer — lembre-se, não estou lhe prometendo nada —, não há problema: você terá se divertido. Você brincou com essa ideia, fez uma tentativa.
Dizem que devemos agarrar as oportunidades. Pois eu digo o contrário: continue aberto à meditação e, quando o momento chegar, quando você estiver realmente relaxado e aberto, a meditação irá agarrá-lo.
E depois disso não o deixará mais.
Não há como. Então pense duas vezes antes de entrar neste jogo!
OSHO, “Aprendendo a Silenciar a Mente”.