Você tem pele grossa?
A gente vai trabalhando com o povo, tentando ajudar as pessoas a se libertarem dos problemas, e vai percebendo que quem tem pele grossa não tem problema. Será que você criou uma pele psicológica, uma casca dura, ou sua pele continua fininha? A vida de quem tem pele grossa é uma maravilha. Mas quem tem pele fina vive na atormentação, na perturbação, na confusão.
Gente de pele fina absorve tudo o que acontece em volta dela. Tudo o que o outro faz é como se fizesse dentro dela. Se a pessoa é criticada ou ouve um parecer ignorante, ela já quer argumentar. Se alguém cobra algo dela, ela já acha que tem que dar satisfação. Vive preocupado com o que as pessoas pensam, com o que elas fazem. Morre de medo dos outros, porque tem pele fina e se mistura com todo mundo.
Quem tem pele grossa escuta os outros, mas sabe que tem uma estrutura interna que o protege. Essa pessoa está bem atenta. Os outros podem falar e fazer acontecer, que de fora para dentro nada penetra. De dentro para fora, sim.
Para engrossar a pele, você precisa mudar o seu modo de pensar, seu modo de ser. Precisa aprender a diferença entre ser pessoal e ser impessoal. As pessoas de pele fina pensam que ser impessoal é ser uma pessoa muito fria, egoísta, que não percebe a necessidade dos outros. Ser impessoal, então, é visto como algo ruim.
Essas pessoas acham que tem que ter compaixão e piedade pelo sofrimento alheio e fazer tudo para ajudar os outros. Pode ser muito bonita essa intenção, mas na realidade não é bem assim.
Ajudar os outros é só para quem tem boa estrutura, para quem não se contagia com a sujeira e com a lama; porque está bem protegido. Geralmente as pessoas seguem os impulsos sem olhar as condições verdadeiras da possibilidade de ajuda.
A pessoa desestruturada acha que tem que ser responsável pelo sentimento do outro. Tem muito medo dos comentários, pois dá muita importância aos outros e pouca para si mesmo. Não respeita a sua vontade e também não sente seu limite. E por isso mesmo vive frustrado, se sentindo rebaixado e depreciado.
Intimidade não é promiscuidade. Promiscuidade é mistura, é não saber mais onde começa um e onde termina o outro. É a gente se perder na loucura dos outros e os outros na nossa. É dor e é sofrimento. Já a intimidade é a revelação da sua essência com sinceridade.
Quem tem pele fina tem que se esconder, que mentir, que disfarçar, tem que lutar para se defender das pessoas e do mal que há à sua volta.
A pele grossa é o que me torna possível permanecer ao lado de uma pessoa muito doente, muito queixosa, muito ruim. Eu fico e ela não me abala, não me influencia. Eu sei que tudo isso é dela, que não é nada pessoal. Eu não ponho o pessoal, porque não acredito em ser pessoal com ninguém. Ao contrário, continuo me comportando do meu jeito.
Vamos rever esse conceito de ser impessoal. Pessoal é assumir as suas necessidades, os seus dons, as suas vontades, o seu amor, o seu sentimento. Você é pessoal com você. O outro é pessoal com ele. Entre vocês, vão ser impessoais. Vai haver a doação, a contribuição, o respeito a si e ao próximo, mas de maneira impessoal. Enquanto não rever o seu conceito do que é ser bom, do que é amar, você vai sofrer. Se você cria uma boa estrutura interna, tudo fica protegido; a sua casa, o seu carro, os seus negócios. Se a sua estrutura interna é fragil, tudo fica em perigo. Por isso, aprenda a ser impessoal.
Calunga, "Um Dedinho de Prosa".