A maçã

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Uma vez um professor contou-me a história hawaiana da criação do mundo. Segundo essa história quando Deus criou a terra e pôs nela Adão e Eva, disse-lhes que estavam no paraíso, que não deveriam preocupar-se com nada, que tudo de que necessitassem lhes seria provido. Também lhes disse que lhes daria um presente, a oportunidade de escolher se queriam tomar suas próprias decisões, e nesse caso lhes daria o livre arbítrio. Então Deus criou a árvore das maçãs e disse-lhes:
- “Isso se chama pensar. Vocês não necessitam de pensar. Eu posso prover todas suas necessidades. Não devem preocupar-se, mas podem escolher se ficam comigo ou se tomam seu próprio caminho”.
E assim eles escolheram comer a maçã, ou seja, decidiram pensar por si mesmos e assumir os riscos. Mas o grande problema não foi comer a maçã, e sim não se fazerem responsáveis e dizer: “Sinto-o”. Foi aí que Adão teve que ir procurar seu primeiro trabalho.
Tal como Adão, estamos sempre mordendo a maçã, sempre pensando que sabemos mais, que podemos resolver tudo sozinhos com nosso pensamento e não nos damos conta de que existe um caminho bem mais fácil.
A questão do pensamento precisa ser bem explicada. O pensamento é o que difere o homem de outros animais. Deus disse ao casal no paraíso que eles teriam de tudo que necessitassem, e que para isso não precisariam pensar. O que o criador quis dizer era que eles não precisavam se preocupar, ficar pensando com angústia de onde viria a próxima refeição ou aonde iriam se abrigar durante a noite. Disse também a eles que poderiam pensar (assumir a responsabilidade) se quisessem bastando para isso comer a maçã. 
Quando Adão e Eva comeram a maçã, decidiram-se pelo livre arbítrio, ou seja, pensarem por si mesmos. Porém eles não sabiam ainda como fazer e desconheciam o poder do pensamento, essa que é a força mais poderosa do universo. Sentiram-se inseguros e preocupados, o que levou Adão a sair à procura do primeiro trabalho. Sua mente racional passou a funcionar, e ela lhe dizia que ele deveria trabalhar a fim e prover o seu sustento. Ele desconhecia que bastaria alinhar seus pensamentos ao pensamento de Deus para criar tudo de que necessitava. Bastaria ter fé, assim como as aves dos céus e os lírios dos campos para que fossem supridas todas as suas necessidades. Eles não entenderam e julgaram que teriam que conquistar tudo com suor e esforço.
Desde então a humanidade assim age para conseguir seus intentos: trabalho duro, competitividade, esperteza. Se Adão e Eva não sabiam usar de forma correta o poder do pensamento, tampouco nós o sabemos atualmente, milênios depois. Estamos em busca do paraíso, aquele perdido lá atrás com a mordida na maçã. E essa é a nossa angústia, pois quase sempre procuramos no lugar errado. Por isso que continuamos mordendo a maça, todos os dias, e acreditando conhecer tudo, nos afastamos de nossa originalidade.
Mabel Katz, “Ho’oponopono - O Caminho mais Fácil”.