"Quando eu falo em você se apoiar, é pra você ter firmeza no que sabe, no que sente, no que faz.
Quantas vezes, num dia, você apoia mais o que o outro diz sobre você, do que o que você sente? Quantas vezes você faz uma coisa e fica esperando alguém dizer que foi correta, que ficou boa como você fez?
Isso é doença, minha filha. E se chama dependência.
Quando você não se apóia, fica na dependência do apoio dos outros. Caminhar para a independência é aumentar o apoio a si. Ser capaz de se apoiar em todos os aspectos, material, psicológico, espiritual.
As pessoas não foram criadas pelos pais para a independência, porque os pais sempre colocaram os referenciais fora dos filhos.
Quem sempre confirmava ou apoiava as atitudes dos filhos eram eles mesmos, os pais, numa disciplina autoritária, sem explicação, ou era o professor, ou era a polícia, ou era a religião... E a maioria das pessoas aprendeu a fazer coisas que não contrariassem os pais, o professor, a polícia ou a religião, ainda que fossem profundamente contrárias a si mesmas, à sua vocação, à sua alma. E desaprenderam de confiar em si mesmas, no seu sentido íntimo, no seu discernimento, agora atrofiado por uma educação limitadora.
Ficaram achando que não eram boas o suficiente para patrocinar suas escolhas, suas idéias e seus sentimentos. Sempre tendo que ter o aval de alguém, ainda que este alguém fosse mais ignorante, desde que viesse com uma certa confiabilidade, nascida de razões muitas vezes inconscientes.
Apoiar-se, então, é entrar nas suas razões mais profundas, é perder o medo de ser errado ou inadequado, pra ficar consigo mesmo. É assumir a responsabilidade por si, cuidar de si, sem ansiedade, sem insegurança quanto ao que os outros vão achar ou dizer.
É achar a sua opinião tão válida quanto a do outro. É dar aos seus motivos consideração igual aos motivos dos outros. É não dar a mais ninguém o poder de pensar ou falar por você, porque este poder é seu, sempre foi, e a responsabilidade do que fazer com ele é toda sua, na eternidade.
Quem sabe você possa, agora, começar a apoiar seus sentimentos como legítimos, e confiar mais neles. E quando fizer qualquer coisa, que não seja esperando o outro gostar ou agradecer, mas seja só a satisfação de realizar sua própria vontade. Simples, né?
Você vai ver como a independência vai tornar sua vida muito mais simples, sem preocupação com a aprovação dos outros; sem ter que ser adivinho do que o mundo espera, pra ser leitor do próprio coração.
Se isso é caridade? Claro que é! Porque aí eu sei que o que eu vou dar ao mundo vai sair de mim mesmo, do meu sentimento, da minha razão, vai ser uma doação real de alma para alma, com toda a intensidade, com todo o entusiasmo de estar fazendo algo que vem de dentro de mim, que não vem de ninguém falar ou achar."
Calunga, por
Rita Foelker.