A moral dos homens, o modo de pensar que orienta todos os nossos atos, é feita de um conjunto de princípios, de ideias básicas.
A partir delas, nós pensamos, nós agimos, estabelecemos os nossos pontos de vista, olhamos a vida de um modo todo particular, fazemos as coisas de um jeito único. Cada um de nós com os nossos princípios. Princípios morais.
Mas dois grandes venenos estão sendo criados dentro desses princípios.
O primeiro princípio moral venenoso é acreditar que está no outro o nosso referencial, o nosso modelo. O outro em primeiro lugar; você sempre depois.
Então, quando esse princípio atua, você vai pelo mundo externo, pelos outros, pelo ambiente. O ambiente te envolve e você se perde no mundo, tornando-se mais um na multidão de anônimos.
Na verdade, nós somos o nosso próprio referencial.
Nossa intuição e sensações são tão particulares que só existe um sentido na nossa vida, alimentado com unicidade. E não nos sentidos dos outros, tão diferentes da nossa essência.
Deus criou a unicidade porque cada indivíduo tem uma missão diferente, um trabalho diferente.
Você não pode usufruir da receita do outro, se alimentar na fonte do outro, usar a medida do outro, sob o risco de estar passando por cima dos seus sentimentos e se perder completamente.
O segundo princípio, é a ideia da imperfeição.
Você acredita piamente que é imperfeito. É o veneno que faz com que você nunca mais tenha autoconfiança, nunca mais acredite em você.
Quando a ideia da imperfeição bate na sua cabeça, você acredita ser um poço de defeitos. E não se cansa de enumerar a todos essas imperfeições. Fica até orgulhoso da sua modéstia. Todos vão aplaudir, vão te admirar por ter a capacidade de reconhecer essas limitações.
Mas não está sendo modesto, não. Está é cego e depressivo.
A obra de Deus - e você é uma obra de Deus - não tem defeitos.
Você, ninguém e nada tem defeitos.
O hábito de se menosprezar é uma característica da humanidade, para que todo mundo, conivente um com o outro, possa ficar "metendo o pau em todo mundo".
Menosprezar-se para se equiparar, para ser igual à multidão; menosprezar-se para ter a aceitação dos outros. Ninguém percebe o obra de Deus, ninguém entende por que é que Deus colocou, digamos, a Raiva dentro da gente. A raiva é um sentimento como um outro qualquer, faz parte da natureza humana, mas é considerada um defeito, um desvio de caráter.
É necessário apenas compreender essas coisas, mas nunca considerá-las defeitos. Quer sejam ódio, nojo, inveja... tudo é obra de Deus, e num contexto maior tem a sua validade, a sua necessidade. Mas nunca podem ser consideradas defeitos.
São instrumentos de compreensão, são exemplos da dualidade do universo.
Podemos certamente não gostar disso tudo. O não gostar é da natureza do homem. Afinal gostamos apenas do que apreciamos e não se pode gostar de tudo e de todos.
Mas é distorcer a realidade separar as coisas em defeito e perfeição. Existe espaço para tudo, tudo é necessário.
Viver é compreender que somos perfeitos na nossa natureza. Não procurar outra coisa, ser outra pessoa. Nada de exasperação, nada de comparação.
Mergulhe na sua natureza e entenda a sua natureza. É essa a verdadeira comunhão com Deus. O acesso à espiritualidade só é possível enquanto você está em paz com a sua natureza. A obra divina em você é perfeita. Reverencie a Deus, aceitando a sua natureza interior, jogando fora a moral falsa.
Esses dois distorcidos princípios morais levam o homem à depressão.
Como é que se vai gostar de alguma coisa com defeito? Como amar algo que consideramos ruim? Como é que se vai respeitar uma porcaria de segunda classe?
Como é que se atrai prosperidade, coragem para viver, energias positivas, estando entregue a uma corrente de pessimismo e desvalorização?
Insatisfeitos, seremos agressivos, ciumentos, invejosos, etc.
Cada ser humano tem o tamanho ideal, o formato ideal para o que foi reservado por Deus. Nada é defeituoso.
Compreendendo a diversidade da natureza, entende-se que os "defeitos", se direcionados de forma certa, são positivos.
Cada um é perfeito do jeito que é. Aceite ou não.
Não faço pelos outros, não ando pelos outros, não me incomodo pelos outros. A importância do outro é secundária. Eu sou o meu referencial.
Não aceito modelos de virtude, não aceito modelos ideais, não aceito essas invenções das pessoas. Não aceito a ideia de que Deus errou.
Se estou errado, então o errado é Deus, que, afinal, me criou.
É preciso compreender que dentro de nós há resposta para tudo. Que nós temos que ter a coragem de questionar, de pedir provas.
É preciso pôr à prova esses princípios que deixamos livremente dirigir a nossa conduta, o nosso comportamento, enfim, a nossa moral.
Será mesmo que temos que viver pelo próximo, esquecendo e abandonando a gente?
É a nossa maneira distorcida de ver as coisas da natureza? Ou temos que viver aquilo que Deus colocou dentro de nós, a nossa sensibilidade, a nossa percepção, o nosso sentimento?
Quando todos perceberem que as causas dos males humanos são a maneira distorcida de interpretarmos a nossa verdadeira natureza, vocês entenderão que não estou brincando não.