Se conseguir um dia extrair cores de onde só se enxerga cinza poderei clarear essa cidade monocromática. Melhor ainda se puder fazer isso com o que não enxergo. Colorir o que não é visto por fora, trazer sentido a isso que chamam de vida. E mostrar que a esperança não está onde tudo é verde ou que a paz é clara como uma luz branca. Desmistificar os paradigmas das cores.
Se o verde for esperança, as florestas estão esgotando seu estoque. Se o branco simbolizasse a paz o brilho das explosões seriam pretos. O coração é vermelho, mas se for azul, funciona do mesmo jeito. O que difere é o modo como uso esse órgão metafórico. Se as lentes forem irreais, quero arrancá-las para enxergar o colorido real que há nos olhos de quem me vê. Se meu humor é pálido, que mergulhe em cores quentes e se aqueça também. Que sempre irradie luz, o sol que é amarelo, e que nunca mais seja cinza como foi naquele dia escuro. Que os palhaços pintem seus narizes de cor qualquer. Que mudem um pouco essa vermelhidão que mais me lembra fim de tarde em um dia apocalíptico.
E que caia do céu um pincel gigante agora mesmo. E baldes e mais baldes de tinta. Que os homens se unam para pintar o que está perdendo a cor. Mas que antes se pintem por inteiro. Dentro e fora de si mesmos. Pintem a alma que não se enxerga, mas se sente. Pintem Deus que se esconde nas nuvens brancas. Se tiver barba, como sugerem os quadros, sujem-na de tinta roxa para que ele desça e entre na brincadeira. E se ele se recusar a entrar na roda com o pretexto de que não pode deixar de vigiar suas crias, que assoprem todos juntos para que ele caia lá de cima sobre uma cama elástica. E façam cócegas nele. Mas e se Deus não for da forma como imagino? Bom, aí a gente inventa e pinta. O que eu quero é não ter que achar que estou sozinho nesse mundo.
Rodrigo Santos.
http://etudoqueeusei.blogspot.com.br/
2011/09/colorido-e-coisa-e-tal.html
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