- Eu não consigo perdoar - diz uma ouvinte do rádio. - Não dá mesmo. Eu tento, e quando vejo, o ressentimento ainda está lá.
- Então vou te ensinar - diz o Calunga. - Posso ensinar? Então lembre-se do que fizeram para você que a magoou. O que a pessoa fez contra você? Não precisa explicar tudo, só o ato.
- Ela mentia muito.
- Ela não respeitava você? Não era sincera com você?
- Não era.
- Agora você vai assumir: eu não sou sincera comigo. Por isso a vida me trouxe essa pessoa que faz o mesmo comigo para eu ver, porque não estou querendo ver e isso é a causa da minha desgraça na vida. Como não sou sincera comigo, não me assumo. Não quero mostrar o sentimento que tenho. Quando estou magoada, eu não falo. Quando algo me causa desprazer, não assumo, eu minto. Depois, quero me esconder, porque tenho vergonha do que sinto. Não sou sincera e, então, Deus me trouxe uma pessoa que não é sincera para eu ver esse problema em mim. Está vendo como a coisa funciona? Você vai assumir o seu problema? Viu que o que a pessoa lhe fez é o mesmo que você faz consigo?
- Vi.
- Então você é a responsável por ter atraído essa pessoa na sua vida. E ela só age assim com você.
- Quando faço assim, fica ainda mais pesado ...
- Para você ver a sua verdade: como você é pesada. Como você não é sincera, não é leve, não se assume completamente. E se você não curar isso, vem outra pessoa assim na sua vida. Pelo amor de Deus, chega uma lição! Quando você mudar sua forma de agir, essa pessoa vai ser sincera com você. Cuide de você. Perdoar é reconhecer nossas faltas, não a do outro.
- Mas, Calunga, tem o outro...
- Não tem o outro. Foi você que atraiu. E a vida trouxe, mas por que a vida trouxe? Para mostrar como você é com você. Tem que assumir as suas faltas. O que são as faltas? É o mal que se faz para os outros? Não, é o mal que se faz para a gente mesmo. Caridade não é com os outros, é com a gente. Se eu o amo e o abraço é porque tenho caridade comigo. Se saio de casa para atender às suas necessidades, se corro para ajudá-lo, é porque sou caridoso comigo, com a minha boa vontade, com a minha disposição, com a minha natureza. Sou caridoso com a minha natureza caridosa. Quem manda em mim é meu coração e minha natureza.
- Ah, mas você é bobo em ajudar aquela pessoa, Calunga - vem alguém me dizer.
- Uai, o meu coração gosta. Está com inveja, sua encrenqueira? Por que você quer me ver ruim, hein? É porque você tem ruindade na cabeça. Eu não vou entrar nisso. Vou gostar de você assim mesmo com essa cabeça ruim. Se eu gostar de você mesmo com essa cabeça maliciosa, você nunca poderá me atingir. Pois o amor lava a multidão de pecados.
Eu sei que a pessoa não presta, que é ruim, encrencada, mas prefiro gostar dela e ser o oposto a ser igual a ela. Pois se eu gosto, não sou igual. Meu coração é nobre, nossa natureza é nobre, porque somos Deus. Tudo o que você escolhe com nobreza, você se eleva. Agora, você faz igual aos outros. Por que se rebaixa? Depois paga o compromisso que tem com você.
- Ah, mas ele fez maldade para os outros.
- Uai, os outros também deixaram.
- Ah, mas você falou e a mulher saiu complicada, ficou nervosa. Complicou a vida dela.
- Uai, como posso controlar as orelhas dos outros?
Eu sou uma rosa, faço perfume. Não quero nem saber para onde ele vai. É coisa de Deus. Eu não sou responsável como vocês. Sou completamente impotente no que diz respeito ao poder dos outros. Então entreguei a Deus: - Ah, Deus, seja feita a sua vontade. Não tem mais a minha vontade, não tem mais eu. Uai, se não tem mais eu, pense um pouco, minha gente. Não tem mais responsabilidade nem consequência. Deus é que faz tudo. Eu entrei no evangelho: fiquei perfeito como o Pai. Eu fiquei, entreguei. Só será feita a vontade do Pai onde o meu poder não pode entrar!
Vocês acham que é demais? Você está chocada? É difícil? Não sei, minha filha, você vai chegar lá, compreendendo as coisas devagar...
Não me leve a mal. Só estou aqui para trocar ideias.
Calunga, "Tudo pelo Melhor".