A ponte

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Eu falarei do Cristo, mas não do cristianismo. O cristianismo não tem nada a ver com o Cristo. Na verdade, o cristianismo é anticristo — tanto quanto o budismo é antibuda e o jainismo é antimahavira. 
O Cristo tem algo que não pode ser organizado: por sua própria natureza, ele é rebelião, e a rebelião não pode ser organizada. No momento em que você a organiza, você a mata. Então, sobra o cadáver.
Você pode reverenciá-lo, mas não pode ser transformado por um cadáver. Você pode carregar o peso por séculos e séculos, mas ele somente pesará em você. Assim, desde o começo, que isto fique bem claro: eu sou completamente a favor do Cristo, mas nem mesmo uma pequena parte de mim é a favor do cristianismo.
Se você quiser o Cristo, terá de ir além do cristianismo. Se você se apegar demasiadamente ao cristianismo, não será capaz de compreender Cristo. Ele está além de todas as igrejas
Cristo é o próprio princípio da religião. Em Cristo todas as aspirações da humanidade são preenchidas. Ele é uma síntese rara. Comumente, um ser humano vive em agonia, angústia, ansiedade, dor e sofrimento.
Se você olhar para Krishna, ele foi para a outra polaridade: ele vive em êxtase. Não sobra nenhuma agonia: a angústia desapareceu. Você pode amá-lo, você pode dançar com ele por um tempo, mas a ponte estará perdida. Você está em agonia, ele está em êxtase — onde fica a ponte?
Um Buda foi ainda mais longe. Ele não está nem em agonia nem em êxtase. Ele está absolutamente tranquilo e calmo. Ele está tão distante que você pode olhar para ele, mas não pode acreditar que ele existe.
Parece um mito — talvez um preenchimento de um desejo da humanidade. Como pode tal homem andar nesta terra, tão transcendental a todas as agonias e os êxtases? Ele está muito distante.
Jesus é a culminação de todas as aspirações. Ele está em agonia — como você, como todos os seres humanos nascem —, em agonia na cruz. Ele está no êxtase que às vezes um Krishna alcança: ele celebra; é uma canção, uma dança.
E também é transcendência. Há momentos em que você chega bem perto dele, em que você vê que seu ser interior não é nem a cruz nem a celebração, mas a transcendência.
Esta é a beleza de Cristo: existe uma ponte. Você pode ir em direção a ele pouco a pouco, e ele pode conduzi-lo na direção do desconhecido — e tão lentamente que você nem terá ciência quando cruzar a fronteira, quando entrar no desconhecido vindo do conhecido, quando o mundo desaparecer e Deus aparecer.
Você pode confiar nele, porque ele é tão parecido com você e, contudo, tão diferente. Você pode acreditar nele, porque ele faz parte da sua agonia — você pode compreender sua linguagem.
Eis porque Jesus se tornou um grande marco na história da consciência. Não é por coincidência que o aniversário de Jesus tenha se tornado a mais importante data histórica. Tinha de ser assim. Antes de Cristo, um mundo; depois de Cristo, passa a existir um mundo totalmente diferente — uma demarcação na consciência humana.
Há tantos calendários, tantos meios, mas o calendário que está baseado em Cristo é o mais significativo. Com ele, alguma coisa mudou no homem: com ele, algo penetrou na consciência do homem

Osho, “Palavras de Fogo: Reflexões Sobre Jesus de Nazaré”.