Meditação e o Fracasso do Sucesso

domingo, 6 de maio de 2012

POR QUE O Ocidente está cada vez mais interessado na meditação? E por que, ao mesmo tempo, muitos países do Oriente parecem ter perdido o interesse por seus próprios tesouros espirituais?
No Ocidente, as pessoas conseguiram atingir toda a abundância que a humanidade, como um todo, tem buscado durante séculos. O Ocidente obteve sucesso material, tornou- se rico e agora está cansado demais. A jornada desgastou sua alma, cansou os ocidentais. No plano material, externo, tudo está disponível, mas o contato com o interior se perdeu. Agora tudo que é necessário está disponível, mas o homem não está mais lá. As posses ficaram, mas os mestres se foram. Ocorreu um grande desequilíbrio. A riqueza está presente, mas as pessoas não se sentem nem um pouco ricas. Pelo contrário, estão se sentindo pobres, muito pobres.
Pense neste paradoxo: é apenas quando você se torna materialmente rico que você percebe, por contraste, sua pobreza interna. Quando você é pobre no plano material, você jamais percebe a pobreza interna, pois não há contraste. Pelo mesmo motivo escrevemos com giz branco em quadros-negros, e não em quadros brancos, pois do contrário não seria possível ver nada. O contraste é essencial.
Quando você é materialmente rico, subitamente há uma grande percepção de que “por dentro eu sou pobre, sou um mendigo”. E junto vem uma falta de esperança, como uma sombra: “Tudo que pensamos foi realizado, todas nossas fantasias e nossa imaginação foram realizadas, e não obtivemos nada a partir disso, nenhum contentamento, nenhum prazer.”
O Ocidente está desorientado. E, partindo dessa desorientação, surge um grande desejo: como entrar novamente em contato com seu próprio eu?
A meditação nada mais é do que se enraizar novamente no próprio mundo interno, em sua interioridade. Por isso o interesse do Ocidente pela meditação e pelos tesouros do Oriente.
É preciso entender que o Oriente também estava interessado em meditação quando era rico. Essa é a razão pela qual não sou contra a riqueza e não acredito que a pobreza traga consigo qualquer espiritualidade. Sou profundamente contra a pobreza porque sempre que um país se torna pobre ele perde contato com todas as meditações, todos os esforços espirituais. Sempre que um país fica materialmente pobre, ele deixa de perceber sua pobreza interna.
É por isso que você encontra, na face dos indianos, um tipo de contentamento que não é encontrado no Ocidente. Não é um contentamento real, mas sim uma falta de percepção de sua pobreza interior. Os indianos pensam: “Veja a ansiedade, a angústia e a tensão na face dos ocidentais. Nós somos pobres, mas por dentro temos um grande contentamento.” Isso é uma besteira completa, eles não estão contentes. Vi milhares de pessoas e estou certo disso. Estou certo também de que não percebem que estão descontentes, já que para perceber esse descontentamento é necessária alguma riqueza exterior. Há muitas provas disso.
Todos os avataras dos hindus eram reis ou príncipes. Todos os teerthankaras, todos os profetas dos jainas eram reis. Assim como Buda. As três grandes tradições da Índia, então, são provas do que disse acima.
Por que Buda se tornou descontente, por que ele começou sua busca pela meditação? Porque era rico. Vivia em abundância, tinha todo o conforto, tudo que poderia desejar materialmente. Subitamente ele atingiu uma percepção, uma consciência. E não era muito velho quando atingiu essa percepção, tinha apenas vinte e nove anos quando percebeu que havia um buraco escuro dentro dele. A luz brilha do lado de fora, e assim é possível perceber a própria escuridão. Foi o que aconteceu.
Quando a Índia era rica, havia muito mais gente interessada em meditação. Na verdade, todos estavam interessados em meditação. Mais cedo ou mais tarde começavam a pensar nas estrelas, na vida após a morte, em seu próprio interior. Hoje é um país pobre, tão pobre que já não há mais contraste entre o mundo interior e o exterior. O mundo interior é pobre, o exterior também é pobre. Estão em perfeita harmonia nessa pobreza. Daí vem o aparente contentamento que se vê nas faces dos indianos, que não é um verdadeiro contentamento. E por causa disso as pessoas se acostumaram com a ideia de que há algo de espiritualizado na pobreza.
A pobreza é venerada na Índia, e esta é uma das razões pelas quais eu sou condenado, pois não sou a favor de qualquer tipo de pobreza. Pobreza não é espiritualidade. Pobreza é a causa do desaparecimento da espiritualidade.
Gostaria que todo o mundo fosse tão rico quanto possível. Quanto mais ricas forem as pessoas, mas espiritualizadas elas se tornarão. Elas não têm outro caminho possível, não podem evitar isso. E somente então surge o verdadeiro contentamento.
Este contentamento surge quando há uma harmonia entre a criação de uma riqueza interior e a riqueza exterior que foi adquirida. Se houver harmonia apenas entre pobreza exterior e pobreza interior, o contentamento será falso. Em ambos os casos há uma perfeita harmonia, um contentamento, mas a harmonia que provém dessa dupla pobreza gera um contentamento feio, ao qual falta vida e vitalidade.
É certo, então, que o Ocidente se interesse cada vez mais pela meditação. É por isso também que o cristianismo está perdendo força no Ocidente, pois ele não desenvolveu de forma alguma a ciência da meditação.
O judaísmo, o cristianismo e o islamismo, as três religiões que não vieram da Índia, nasceram no tempo em que o Ocidente era pobre. Não podiam desenvolver técnicas de meditação, pois não havia necessidade para isso. Permaneceram como religiões dos pobres.
Agora que o Ocidente tornou-se rico, há uma disparidade. Essas religiões ocidentais, nascidas na pobreza, não têm o que oferecer para os homens ricos. A seus olhos parecem infantis, não são satisfatórias. Não podem satisfazê-lo. Mas as religiões orientais nasceram na riqueza, e por isso os ocidentais cada vez mais se interessam por elas. O budismo tem, hoje, uma grande influência, e o zen se espalha rapidamente. Por quê? Porque nasceram da riqueza.
Há uma enorme semelhança entre a psicologia atual dos ocidentais e a psicologia do budismo. O Ocidente se encontra agora no mesmo estado em que Buda estava quando se interessou pela meditação. Era a busca de um homem rico. O mesmo ocorre com o hinduísmo e com o jainismo — essas três grandes religiões da Índia nasceram da riqueza e abundância.
A Índia está perdendo o contato com suas próprias religiões. Não consegue mais entender Buda, pois agora é um país pobre. Pode parecer surpreendente, mas os indianos pobres estão se convertendo ao cristianismo. Enquanto os ocidentais estão se convertendo
ao budismo, ao hinduísmo, ao vedanta, os intocáveis, as pessoas mais miseráveis da Índia, estão se tornando cristãos. O que quero dizer, portanto, é que essas religiões têm um apelo especial para os mais pobres. Mas não têm qualquer futuro, pois mais cedo ou mais tarde haverá riqueza em todo o mundo.
Não faço a apologia da pobreza, não respeito a pobreza. A humanidade tem o direito às duas riquezas: espiritual e material. A ciência desenvolveu a tecnologia para criar a riqueza material. E a religião desenvolveu a tecnologia para criar a riqueza espiritual: ioga, tantra, taoísmo, sufismo, hassidismo — essas são as tecnologias do eu interior.
O Oriente está vivendo em um estado de quase inconsciência. Está com fome demais para meditar, está pobre demais para rezar. Seu único interesse é em pão, abrigo, roupas. Quando os missionários cristãos chegam e abrem uma escola ou um hospital, os indianos ficam impressionados, dizem “isto é espiritualidade”. Mas quando eu vou falar sobre meditação, não estão interessados, são contra isso: “que tipo de espiritualidade é esta?”.
É preciso encontrar um equilíbrio. Eu defendo um mundo unido, único, no qual o Ocidente possa satisfazer as necessidades do Oriente e o Oriente possa satisfazer as necessidades do Ocidente. Ambos têm vivido separadamente por tempo demais, isso não é necessário. O Oriente não deve mais ser o Oriente e o Ocidente não deve mais ser o Ocidente. Chega mos ao momento crítico em que todo este planeta pode se tornar um só — ele deve se tornar um só — porque só assim poderá sobreviver.
O tempo das nações já se foi, o tempo das divisões ter minou, o tempo dos políticos também. Estamos nos mo vendo em direção a um fantástico mundo novo, uma nova fase para a Humanidade, na qual haverá apenas um único mundo, uma única Humanidade. Neste momento haverá uma enorme liberação de energias.
O Oriente possui tesouros, as tecnologias religiosas. O Ocidente possui outros tesouros, as tecnologias científicas. Se os dois puderem unir-se, este mundo se tornará um paraíso. Não será preciso, então, esperar por um outro mundo: pela primeira vez somos capazes de criar o paraíso aqui, nesta Terra. E se não o fizermos, a culpa será única e exclusivamente nossa.
Defendo essa visão de um único mundo, uma só Humanidade no final das contas, uma ciência integrada que reunirá os dois aspectos. Será uma mistura de religião e ciência, uma ciência c que poderá lidar com o interior e o exterior. É isto que estou tentando realizar
em minha comunidade. É um local de encontro do Ocidente com o Oriente. É um útero no qual uma nova Humanidade pode ser concebida, de onde ela pode surgir.
OSHO, “Aprendendo a Silenciar a Mente”.