AS MEDITAÇÕES ativas* ou dinâmicas, que têm como princípio a catarse, permitem que todo o seu caos interior seja eliminado. Aí está a beleza dessas técnicas. Mesmo que você não consiga se sentar e permanecer em silêncio, você com certeza pode executar as meditações dinâmicas ou caóticas facilmente. Uma vez removido o caos, surgirá um silêncio em você. Então você será capaz de se sentar em silêncio. Se executadas correta e continuamente, as técnicas de meditação catártica dissiparão todo o seu caos interior. Não é necessário que você passe por um estágio de loucura em sua jornada, como muitas pessoas já tiveram que fazer no passado. É por isto que as minhas técnicas são tão interessantes. A loucura também já está sendo colocada para fora, isso já faz parte da técnica.
É interessante notar que Patanjali, o fundador da ioga, não desenvolveu nenhum método catártico. Ao que parece, não eram necessários na sua época. As pessoas eram naturalmente mais silenciosas, pacíficas, primitivas. A mente ainda não funcionava tanto. As pessoas dormiam bem e viviam como os animais. Elas não eram tão pensativas, lógicas e racionais. Estavam mais centradas no coração, como acontece com os povos primitivos ainda hoje. Além disso, a vida funcionava de uma forma tal que produzia muitas catarses automaticamente.
Pense em um lenhador, por exemplo. Ele não precisava de catarse porque, ao cortar a lenha, todos os seus instintos assas sinos eram eliminados. Cortar lenha é como assassinar uma árvore. Um pedreiro não precisava fazer meditação catártica, ele a fazia o dia inteiro.
Mas as coisas mudaram para o homem moderno. Hoje nós vivemos em tamanho conforto que não existe a possibilidade de realizarmos qualquer catarse em nossas vidas, exceto, é claro, se você dirigir como um louco!
*Nota do editor: Ao longo de sua vida, Osho desenvolveu diversas técnicas de meditação ativa especialmente para o homem moderno. Muitas envolvem um período de intensa atividade física e catarse, seguido por um período de observação silenciosa e celebração. Todas essas meditações são acompanhadas com música para ajudar a guiar o meditador através dos diferentes estágios. Este livro contém uma das técnicas mais passivas e femininas, a meditação Nadabrahma, nos capítulos seguintes. Outras técnicas mais ativas incluem a meditação dinâmica, a meditação Kundalini e a Nataraj.
É possível que você já tenha observado que, ao dirigir quando está com raiva, você vai mais rápido do que de costume, continua a pisar no acelerador e simplesmente se esquece de que existem freios. Quando está irritado e com muito ódio, o carro se transforma em um meio de expressão. Tirando isso, você vive muito confortavelmente, faz menos exercícios físicos a cada dia que passa e vive mais e mais dentro de sua mente.
Aqueles que têm conhecimento sobre os centros mais profundos do cérebro costumam dizer que os trabalhadores braçais são pessoas menos ansiosas e tensas, que dormem melhor. Isto pode ser explicado porque as mãos estão conectadas com a parte mais profunda do cérebro. Quando você trabalha com as mãos, a energia está fluindo da cabeça para as mãos e sendo liberada. As pessoas que trabalham com as mãos não precisam de uma catarse, mas aquelas que realizam trabalhos essencialmente mentais precisam de muita catarse porque acumulam energia demais e não possuem uma saída ou abertura por onde ela possa ser liberada do corpo. Essa energia permanece dentro da mente o tempo todo, enlouquecendo-a.
Contudo, em nossa cultura e sociedade — no escritório, na fábrica, no mercado —, aqueles que trabalham com a mente são conhecidos como os “cabeças”: são os chefes, gerentes, diretores, presidentes. Já os que trabalham com as mãos são a “mão-de-obra”, há um significado pejorativo associado ao trabalho manual.
Antigamente, não havia a necessidade de catarse, porque a própria vida já era uma catarse. Hoje, porém, não é mais assim. Por isso inventei os métodos catárticos. Somente após executá-los você será capaz de sentar-se em silêncio, mas não antes.
Eu também tenho insistido na ideia de celebrações como parte de suas meditações. Neste mundo onde a consciência reina, nada é mais útil do que celebrar. Celebrar é regar unia planta. Preocupar-se é o oposto, é cortar raízes. Meu conselho é ser feliz, dançar com seu silêncio, O momento está aí, aproveite-o. Por que pedir mais? Amanhã será um novo dia, mas este momento é o bastante. Então, por que não vivê-lo, é celebrá-lo, dividi-lo com outros, aproveitá-lo? Deixe-o transformar-se em uma canção, uma dança, um poema. Permita que seu silêncio seja criativo, faça algo com ele.
Milhões de coisas se tornam possíveis, porque nada é mais criativo do que o silêncio. Não é preciso ser um grande mestre da pintura, um Picasso. Não é necessário ser um grande líder ou um grande poeta. Estas ambições de grandeza pertencem à mente e não ao silêncio.
Mesmo que o resultado seja insignificante, pinte, escreva um poema, cante, dance um pouco, enfim, celebre e você verá que o momento seguinte trará mais silêncio. Quanto mais celebrar, mais receberá em troca. Quanto mais compartilhar, mais será capaz de receber. A cada momento esse movimento cresce. Se o momento seguinte nasce sempre do atual, então por que se preocupar com isso? Se o momento atual é um silêncio, como o momento seguinte poderia ser caótico? De onde o caos virá? O momento seguinte nascerá do momento atual. Se estiver feliz neste momento, como poderei estar infeliz no seguinte?
Se quiser que o momento seguinte seja triste, então você precisa estar infeliz no momento atual, porque a infelicidade só gera mais infelicidade. Da mesma forma, somente a felicidade pode gerar felicidade. Não importa o que você queira colher no próximo momento, você deve plantá-lo imediatamente. Quando você permite que a preocupação exista, você começa a pensar que o caos também existirá, e ele virá, de fato, porque você mesmo já o trouxe. Você é obrigado a colher aquilo que plantou.
Lembre-se disso, que é algo realmente estranho: quando você está triste, nunca pensa que sua tristeza pode ser imaginária. Jamais encontrei uma pessoa triste que me dissesse que sua tristeza talvez fosse imaginária. A tristeza é absolutamente real. Mas, e a felicidade? Imediatamente algo sai errado e você começa a pensar: “Talvez ela seja imaginária.” Sempre que você está tenso, jamais pensa que sua tensão e angústia possam ser uma fantasia. Se pudesse, elas desapareceriam. Assim, se você pensa que seu silêncio e sua felicidade são imaginários, eles desaparecerão.
Tudo o que se percebe como real torna-se real. Tudo o que se percebe como irreal torna-se irreal. Lembre-se de que você é o criador de todo o mundo a seu redor. É tão raro atingir um momento de felicidade total — não desperdice esse momento com pensamentos. Mas, se você não fizer nada, poderá ficar preocupado. Se não dançar, cantar, nem compartilhar, a possibilidade da preocupação estará sempre lá. A própria energia que poderia ser canalizada para algo criativo irá gerar essa preocupação. E isso criará novas tensões dentro de você.
A energia tem que ser criativa. Se você não usá-la para a felicidade, a mesma energia será usada para gerar infelicidade. E como você tem hábitos tão arraigados para a infelicidade, o fluxo da energia provavelmente já se tornou bastante frouxo dentro de você. Para criar felicidade você precisa fazer muito esforço.
Assim, você terá que estar constantemente consciente e, sempre que houver um belo momento, deixe-o agarrá-lo, possuí-lo e aproveite-o em sua totalidade. Se fizer isto, será impossível que o momento seguinte seja diferente. Por que seria diferente? De onde viria?
O tempo é criado dentro de você. Seu tempo não é o mesmo que o meu. Existem tantos tempos paralelos quanto existem mentes. Não existe um tempo único. Se houvesse, haveria dificuldades. Se assim fosse, não seria possível que alguém, nesta mísera raça humana, se tornasse o Buda, porque pertenceríamos todos ao mesmo tempo. Não, o tempo não é o mesmo para todos. Meu tempo vem de dentro de mim, é minha criatividade. Se este momento é belo e se o próximo nasce ainda mais belo — este é o meu tempo. Se este momento é triste para você, então um momento ainda mais triste nascerá dentro de você — este é o seu tempo. Há milhões de linhas de tempo paralelas. Mas há pouquíssimas pessoas que existem fora do tempo — aquelas que atingiram a não-mente. Essas pessoas não têm tempo porque não pensam a respeito do passado. O passado já foi e somente os tolos pensam nele. Quando algo se foi, passou, já não é mais.
Há um mantra budista que diz gate, gate, paragate — swaha, o que quer dizer “passado, passado, totalmente passado — deixe-o queimar” O passado é passado, o futuro ainda não chegou. Por que então se preocupar a respeito? Quando o momento chegar, você estará ali para encontrá-lo, não há motivo para ansiedade. Só o momento atual importa, puro, intenso, cheio de energia. Viva este momento! Se ele for feito de silêncio, seja grato. Se for de pura felicidade e contentamento, dê graças a Deus e tenha fé. Se tiver fé, ele crescerá. Se for descrente, você já o terá envenenado.