Meditação É Vida e Não Meio de Vida

terça-feira, 8 de maio de 2012

Que soninho bom!  ZZZzzzzz   :)
TODOS TEM que fazer algo na vida. Uma pessoa será um carpinteiro, outra será um rei, outra um negociante, outra um guerreiro. Todas essas coisas são meios de vida, formas de ganhar o pão de cada dia, de obter um abrigo. Não importa se você for um guerreiro ou um negociante: são escolhas sobre como ganhar a vida, não podem mudar seu ser interior.
A meditação é vida e não meio de vida. Não tem nada a ver com o que você faz, mas tem tudo a ver com o que você é. Sim, é verdade que os negócios não devem penetrar em seu ser. Caso seu ser também fique preso aos negócios, será difícil meditar e impossível tornar-se um sannyasin, alguém que procura. Porque, caso seu ser tenha se tornado um executivo, uma pessoa de negócios, então você terá se tornado calculista demais. E uma pessoa calculista é necessariamente covarde: pensa demais, não pode arriscar saltos.
A meditação é um salto: da mente para o coração e, em última instância, do coração para o ser. Você irá cada vez mais fundo, lá onde os cálculos terão que ser deixados para trás, onde toda a lógica se tornará irrelevante. Não será possível levar sua esperteza para lá.
Na verdade, a esperteza não é a verdadeira inteligência. A esperteza é um substituto pobre para a inteligência. As pessoas que não são inteligentes aprendem a ser espertas. Pessoas inteligentes de fato não precisam ser espertas: são inocentes, não precisam ser astuciosas. Funcionam a partir de um estado de não-saber.
Se você é um negociante, não há nada de errado nisso. Jesus era filho de um carpinteiro, ajudava seu pai trazendo e cortando madeira. Ele pôde se tornar um meditador e um sannyasin — e, no final das contas, se tornar um Cristo, um Buda. Se o filho de um carpinteiro pode tornar-se um Buda, por que você também não pode?
Kabir era um tecelão. Trabalhou durante toda a vida. Mesmo depois de ter atingido a iluminação, continuava a tecer, pois gostava muito de fazer isso. Muitas vezes seus discípulos pediam, insistentemente, com lágrimas nos olhos, que ele não trabalhasse mais: “Você não precisa mais fazer isso. Nós estamos aqui para cuidar de você. Há tantos discípulos, e você continua a tecer, mesmo já sendo velho?”
E Kabir respondia: “Mas vocês sabem para quem eu estou tecendo? Para Deus! Agora todas as pessoas são um deus para mim. Esta é minha forma de rezar?”
Se Kabir pôde se tornar um Buda e ainda assim permanecer tecendo, por que você não pode fazer o mesmo?
Mas os negócios não devem entrar em seu ser. Os negócios devem ser algo externo, seu meio de ganhar a vida. Quando você fechar sua loja ou sair de seu escritório, esqueça seus negócios. Não leve a loja ou o escritório para casa com você. Quando estiver em casa, com sua mulher, seus filhos, não seja m homem de negócios. Isso é feio: significa que seu ser está contaminado pelo que você está fazendo. O fazer é sempre algo superficial. O ser deve permanecer transcendental em relação a seu fazer e você deveria ser sempre capaz de colocar seu fazer de lado e entrar no mundo de seu ser. É sobre isso que a meditação diz respeito.
Há certas mentes que funcionam permanentemente como se estivessem fazendo negócios. Em todas as dimensões de suas vidas, essas pessoas são pessoas de negócios. Se você for esse tipo de pessoa, aqui não é o seu lugar.
Aqui é o lugar para os que estão dispostos a apostar. É o lugar para as pessoas que podem arriscar tudo por nada.
Exatamente isso, tudo por nada, porque a meditação levará você a um estado de completo vazio. Mas aqueles que chegarem ao vazio da meditação imediatamente perceberão que também atingiram a completude de Deus. O vazio de si mesmo é a completude de Deus, este é seu outro aspecto. Você se torna nada e subitamente uma grande plenitude desce sobre você — você está transbordante, preenchido por Deus. Ao tornar-se vazio, você se torna espaçoso, torna-se um hóspede para o grande visitante.
Mas se você ficar calculando o tempo todo, movendo-se cuidadosamente, não poderá tornar-se nada. Como deixar de lado tudo em troca de nada?
Então o que eu ensino não é para você. Vá procurar um desses pseudoprofessores velhos e tradicionais. Eles irão consolá-lo. Irão lhe dizer que você pode continuar sendo um homem de negócios e ainda assim abrir uma conta bancária no paraíso. Seja caridoso: faça doações para os pobres, para o templo, para a igreja ou sinagoga, para o hospital, para a escola. Dizem que você será recompensado mais tarde, após sua morte. Basta praticar a caridade. Se você explora o trabalho de outras pessoas, pode sempre lhes dar uma parte de volta, pode dar um pouco de seu dinheiro para instituições beneficentes. Essas são as formas de consolação. E haverá um lugar reservado para você no paraíso.
Não seja tolo! O paraíso não sai assim tão barato. Aliás, não há paraíso em lugar algum, é algo que está dentro de você mesmo. E nenhuma caridade poderá levar você até lá. Mas é possível atingir esse lugar se toda sua vida se tornar caridosa, o que é algo totalmente diferente. Se você chegar lá, toda sua vida se tornará compaixão.
Continue sendo uma pessoa de negócios, mas esqueça-se disso por algumas horas. Não quero que você fuja de sua vida cotidiana. Estou aqui para lhe falar sobre os caminhos, as formas, a alquimia que lhe permitam transformar o ordinário no extraordinário. Seja uma pessoa de negócios no escritório, mas não em casa. E, de quando em quando, se esqueça por algumas horas até mesmo da casa, da família, do cônjuge, das crianças. Fique sozinho consigo mesmo. Mergulhe cada vez mais fundo em seu ser. Divirta-se consigo mesmo, ame a si mesmo.
Então, aos poucos, você perceberá que uma grande alegria que está crescendo, sem nenhuma causa externa. Isto é seu próprio ser, seu próprio florescer. Isto é meditação.
Sentado, em silêncio, sem fazer nada, a primavera virá e a grama crescerá sozinha. Sente-se em silêncio, sem fazer nada, e espere a primavera. Ela sempre vem e, quando chegar, a grama crescerá sozinha. Você verá essa grande alegria crescendo em você sem qualquer motivo. Divida essa alegria, espalhe-a para os que estão a seu redor. Nesse momento, sua caridade estará dentro de você. Não será apenas uma forma de atingir um objetivo, ela terá um valor intrínseco.
Uma vez que você tenha se tornado um meditador, sannyas não está muito longe! Meu sannyas, em particular, não é nada além de viver no mundo comum, mas viver de tal forma que não me sinta possuído por ele. Permanecer transcendental, permanecer no mundo, mas um pouco acima dele. Isso é sannyas.
Não é sannyas à moda antiga, na qual você tinha que fugir de sua família, de seus filhos e seus negócios, ir para o Himalaia. Isso nunca funcionou bem. Muitos foram morar
nas montanhas, mas carregaram consigo suas mentes estúpidas. O Himalaia não pôde ajudá-los muito — pelo contrário, eles nada mais fizeram senão destruir sua beleza. Em que o Himalaia pode ajudá-lo?
Você pode deixar o mundo, mas não pode deixar sua mente aqui. A mente irá com você, ela está dentro de você. E onde quer que você esteja, essa mesma mente irá criar o mesmo tipo de mundo ao redor de você.
Um grande místico estava morrendo. Ele chamou seu principal discípulo. O discípulo ficou muito feliz ao ver que seu mestre o chamava, pois ele havia sido escolhido entre uma multidão de pessoas. Provavelmente o mestre iria transmitir algum grande segredo que não havia contado para ninguém até agora. “Esta é a forma pela qual ele está me escolhendo como seu sucessor!”, pensou o discípulo, enquanto se aproximava.
O místico disse: “Tenho apenas uma coisa a lhe dizer. Eu não fui capaz de ouvir meu mestre, que me disse esta mesma coisa ao morrer. Eu era tolo e não ouvi, nem mesmo pude entender o que ele queria dizer. Mas estou lhe falando, com toda minha experiência, que ele está certo, apesar de eu ter achado absurdo quando ele me contou.”
O discípulo perguntou: “O que é? Por favor, me conte! Tentarei seguir cada uma de suas palavras”.
O mestre então disse: “É algo muito simples: nunca, em momento algum de sua vida, tenha um gato em sua casa!” E antes que o discípulo pudesse perguntar por que, o mestre morreu!
Agora ele se sentia desorientado — que frase idiota! E a quem ele iria perguntar o que aquilo queria dizer? Foi procurar as pessoas mais velhas do vilarejo. “Há algum sentido nessa mensagem? Deve haver algum sentido misterioso oculto aqui!”
Um dos anciãos falou: “Sim, eu sei por que o mestre de seu mestre disse o mesmo para ele: ‘Nunca, jamais, tenha um gato em sua casa’. Mas ele não ouviu. Eu sei toda a história”.
O discípulo pediu que o ancião lhe contasse tudo para que ele pudesse entender o significado do que o mestre lhe dissera.
O ancião riu. Disse: “É algo muito simples, não há nada de absurdo aí. O mestre de seu mestre deixou para ele uma grande mensagem, mas seu mestre nunca se perguntou: ‘Qual o sentido disso?’ Ao menos você foi inteligente o bastante para indagar a respeito. Seu mestre era jovem quando essa mensagem lhe foi transmitida. Ele costumava viver na floresta e possuía apenas duas roupas, nada mais. E o pior é que frequentemente suas roupas eram destruídas pelos ratos que entravam em sua casa, e ele era obrigado a pedir novas peças às pessoas do vilarejo.
Um dia, um habitante do vilarejo disse: ‘Por que você não tem um gato? Se você tiver um gato, ele comerá os ratos e não haverá problemas. Do contrário, como nós, que somos pessoas pobres, faremos para lhe dar roupas novas todos os meses?’
Parecia bastante lógico, então ele pediu que alguém lhe desse um gato. Levou o gato para casa, mas aí começaram os problemas. O gato obviamente salvou as roupas, mas o gato precisava de leite, porque depois que ele comeu os ratos não havia mais o que comer. E o pobre homem não podia meditar, porque o gato estava sempre miando e gemendo e dando voltas a seu redor.
Ele retornou ao vilarejo e falou com algumas pessoas, que lhe disseram: ‘Esta é uma situação difícil. Agora teremos que lhe fornecer leite diariamente. Em vez disso, podemos lhe dar uma vaca. Assim a situação estará resolvida, você fica com a vaca. Você pode beber o leite e seu gato também. Assim você também não precisará mais nos pedir comida diariamente.
A ideia parecia ótima. Ele levou a vaca... e o mundo começou. É assim que o mundo começa. A vaca precisa de grama, e as pessoas disseram: ‘No próximo feriado, nós limparemos uma área na floresta e prepararemos a terra. Você irá plantar um pouco de trigo e algumas outras coisas, e deixará uma parte para a grama.’
E os habitantes do vilarejo fizeram o que haviam prometido: limparam a floresta, araram o solo, plantaram trigo. Mas agora havia outro problema: era necessário irrigar a terra, cuidar da plantação. E o pobre homem gastava todo o seu dia com isso. Não havia mais tempo para ler as escrituras, nem para meditar.
Mais uma vez ele retornou ao vilarejo e disse: ‘Meus problemas só estão piorando! Agora o problema é que não há mais tempo para meditar!’
Eles responderam: ‘Espere um pouco. Uma mulher acaba de ficar viúva, ela é jovem e temos medo que ela seja uma tentação para os jovens de nosso vilarejo. Por favor, leve-a com você. Ela é saudável, pode tomar conta de sua terra, dá vaca, do gato, e irá preparar sua comida. Ela também é muito religiosa. E não se preocupe, ela não irá perturbá-lo.”
Assim as coisas se encaminharam para sua conclusão lógica. Veja o quanto o homem já havia se afastado de seu caminho desde que recebera o gato...
A mulher foi morar com ele e cuidar dele. Durante alguns dias, ele se sentiu muito feliz. Ela massageava seus pés e... aos poucos o que tinha que acontecer aconteceu: eles se casaram. E quando você se casa, na índia, tem ao menos uns doze filhos. No mínimo! Então toda a meditação se foi.
Ele se lembrou disso apenas quando estava morrendo. Lembrou-se outra vez que, quando seu mestre estava morrendo, havia dito a ele para tomar cuidado com os gatos. Foi por isso que ele lhe disse isso. “Agora é sua vez de tomar cuidado com os gatos. Basta um pequeno passo na direção errada e você estará seguindo o caminho errado. E sua mente estará com você, aonde quer que você vá.”
Uma vez estive no Himalaia. Estava em uma região deserta do Himalaia com dois amigos. Entramos em uma caverna deserta. Era tão bonita que passamos a noite lá. Na manhã seguinte veio um monge e disse: “Saiam, esta é a minha caverna!”
Eu disse a ele: “Como é possível que esta caverna seja sua? Você não vê que é uma caverna natural? Você não pode tomar posse dela, você não a construiu. E você renunciou ao mundo, à sua casa, à sua família, aos seus filhos, seu dinheiro e tudo mais, e agora está dizendo que esta é sua caverna e que nós devemos sair? Esta caverna não pertence a ninguém!”
Ele estava muito irritado. Disse: “Vocês não me conhecem! Sou um homem perigoso! Não vou deixar a caverna para vocês. Tenho vivido nela durante os últimos treze anos!”
Nós o provocamos o máximo que pudemos, ele estava cheio de ira, pronto para matar! Então me virei e disse: “Está bem. Nós vamos embora. Estávamos apenas provocando você para lhe mostrar que treze anos se passaram, mas sua mente continua a mesma. Agora esta caverna é sua, porque você morou aqui durante treze anos. Você não a trouxe consigo quando nasceu e não a levará quando morrer. E nós não ficaremos aqui para sempre, apenas por uma noite. Somos apenas viajantes, não monges. Vim apenas ver quantas pessoas estúpidas vivem nessa parte do mundo, e você parece ser a mais estúpida de todas.”
Você pode deixar o mundo... mas será o mesmo. Você irá recriar o mesmo mundo, porque estará levando a planta em sua mente. Não se trata de deixar o mundo, a questão é mudar a mente, renunciar à mente. É isso que a meditação é.
OSHO, “Aprendendo a Silenciar a Mente”.