UM AMIGO me disse uma vez: “A meditação é para místicos. Por que, então, você propõe sua prática para pessoas comuns?”
Primeiro, queria dizer que nunca encontrei uma pessoa comum. Isso não existe, é algo criado por pessoas egoístas. Um egoísta precisa criar coisas comuns, essa é a única forma através da qual seu ego pode existir. Nenhum ser humano é comum, pois cada um de nós é sempre absolutamente único. Cada ser humano é criado por Deus. Como, então, poderia ser comum? Deus nunca cria nada comum. Tudo em sua criação é raro. Cada indivíduo é tão único que nunca se repetirá. Você nunca foi antes, nunca será depois. Não é possível encontrar ninguém exatamente igual a você.
Ainda assim, a meditação seria “para místicos”. É verdade, trata-se de algo para místicos, mas nós já nascemos místicos, pois cada um de nós carrega consigo um grande mistério que precisa ser compreendido, cada um de nós possui um grande potencial que precisa ser desenvolvido. Todos nascem com um futuro. Todos têm esperança.
Qual o sentido, então, quando se fala em “ser um místico”? Um místico é alguém que está tentando desvendar os mistérios da vida, que está se movendo rumo ao desconhecido, que está explorando novos territórios, cuja vida é de exploração, de aventuras.
E é assim que começa a vida de toda criança. Com admiração, assombro, com muitas perguntas em seu coração. Cada criança é um místico. Mais tarde, em algum momento dentro do suposto processo de “crescimento” você perde o contato com sua possibilidade interna de ser místico e torna-se negociante, ou balconista, ou cobrador, ou ainda padre. Você se torna outra coisa. E começa a pensar que você é esta outra coisa. E quando realmente acreditar nisso, então assim será de fato.
Estou me esforçando, aqui, para destruir suas noções errôneas sobre si mesmo e para liberar o misticismo que há em você. Meditação é um caminho para liberar o misticismo e serve para qualquer um, sem exceção.
“A meditação é para místicos. Por que, então, você propõe sua prática para pessoas comuns e para os filhos dessas pessoas?” Ninguém é comum, e as crianças são as mais capazes de aprender. São místicos naturais. E antes que sejam destruídos pela sociedade,
antes que sejam destruídos por outras pessoas condicionadas, corrompidas, o melhor a fazer é ensinar a elas algumas coisas sobre meditação.
Meditação não é um condicionamento, porque não é uma doutrina. Meditação significa não ter um credo. Se você educa uma criança para ser cristã, estará transmitindo uma dou trina para ela. Estará forçando-a a acreditar em coisas que parecem absurdas. Você precisa dizer à criança que Jesus nas céu de uma mãe virgem, isso se torna um preceito básico. Nesse momento, você está destruindo a inteligência natural da criança. Se ela não acreditar em você, você ficará zangado e, sendo mais forte, poderá punir a criança. Se ela acreditar em você, estará indo contra sua inteligência intrínseca, O que você diz parece absurdo para a criança, mas ela precisa concordar com você. E, uma vez tendo concordado, começa a perder sua inteligência, começa a ficar mais burra.
Se você ensinar uma criança a seguir os preceitos do islamismo, novamente você terá que lhe ensinar mil e um absurdos. O mesmo ocorre com o hinduísmo e todos os outros tipos de crenças, dogmas. Mas se você ensinar uma criança a meditar, não será uma doutrinação. Você não diz que ela precisa acreditar em nada, está apenas convidando-a para uma experiência de não-pensamento. O não-pensamento não é uma doutrina, é uma experiência.
As crianças acabaram de vir do outro mundo, estavam próximas a Deus! Ainda lembram algo desse mistério, não o esqueceram completamente. Em algum momento irão esquecer, mas ainda têm a fragrância a seu redor. É por isso que todas as crianças parecem tão belas, tão graciosas. Você já viu alguma criança feia?
Mais tarde, na vida, é difícil encontrar pessoas belas. O que acontece com essa beleza? Como ela desaparece? Que calamidade acontece durante o processo de crescimento que torna as pessoas feias?
Elas começam a perder sua graciosidade no dia em que começam a perder sua inteligência. Começam a perder seu ritmo natural, sua elegância natural, e começam a aprender comportamentos plastificados. Não podem mais rir, chorar ou dançar espontaneamente. São forçadas para dentro de uma gaiola, uma camisa-de-força. São aprisionadas.
As correntes que as prendem são sutis e não muito fáceis de perceber. São correntes feitas de pensamento — cristianismo, hinduísmo, islamismo. As crianças foram
acorrentadas, mas não podem ver as correntes, então não podem lidar com elas. E sofrerão durante toda sua vida. É uma prisão e tanto. Não é como colocar uma pessoa na cadeia, mas sim criar uma cadeia ao redor da pessoa. Aonde quer que ela vá, a cadeia estará junto. Ela pode ir até o Himalaia, sentar-se em uma caverna, ainda assim será um hindu, um cristão. E continuará com seus pensamentos.
A meditação é uma forma de se aprofundar em si mesmo até o ponto em que não há mais pensamentos. Por isso, não é uma doutrinação. Na verdade, não está ensinando nada a você, apenas está tornando você mais alerta para sua própria capacidade interna de ser sem pensar, de ser longe da mente. E o melhor momento é quando a criança ainda não foi corrompida.