Meditação é sua natureza (2)

sábado, 5 de maio de 2012

A primeira coisa a ser lembrada sobre a mente, portanto, é que há um falatório constante. É esse ruído que mantém a mente viva. Então livre-se das garras da mente, livre- se do falatório constante.
Você pode fazer isso à força, mas nesse caso terá errado o alvo de novo. Você pode se obrigar a não falar dentro de si mesmo, assim como pode se obrigar a manter silêncio em relação aos outros. Será um silêncio forçado, difícil no início, mas você pode insistir e obrigar a mente a ficar em silêncio. É possível.
Se você for até as montanhas do Himalaia, encontrará várias pessoas que atingiram esse estado, mas verá uma apatia em suas faces, e não inteligência. A mente não foi transcendida, ela foi apenas esvaziada. Essas pessoas não se moveram para um silêncio cheio de vida, apenas forçaram a mente e a controlaram. É como se uma criança fosse obrigada a sentar-se em um canto e não se mover. Observe-a. Ela fica irrequieta, mas tenta se controlar. Está reprimindo sua energia, com medo de ser punida.
Se isto continuar por muito tempo — e na escola as crianças são obrigadas a ficar cinco ou seis horas sentadas—, aos poucos vão ficando apáticas, sua inteligência se perde. Toda criança nasce inteligente e quase noventa e nove por cento das pessoas morrem
burras. Todo o processo de educação esvazia a cabeça, e você também corre o risco de fazer isso a si mesmo.
Você irá perceber que, em sua maioria, as pessoas religiosas são burras, mesmo que você não consiga ver isso com clareza devido ao que pensa a respeito delas. Mas se tiver o olhar aberto, vá e observe os sannyasins. Descobrirá que são burros e obtusos, não encontrará neles qualquer sinal de inteligência ou criatividade.
A paralisia não é meditação, e não é saudável. Você pode paralisar a mente, há milhares de truques para fazê-lo. Há pessoas que se deitam sobre uma cama de pregos. Se você se deitar continuamente em uma cama de pregos, seu corpo se torna insensível. Não há milagre algum nisso, você está. simplesmente removendo a sensibilidade do corpo. Quando o corpo perde sua vitalidade não há mais problemas, a cama deixa de ser feita de pregos para você. Talvez seja até mesmo confortável. Na verdade, se lhe derem uma cama confortável é possível que você não seja capaz de dormir. Isto é paralisar o corpo.
Há maneiras similares de paralisar a mente, como jejuar, por exemplo. A mente avisa que o corpo está com fome, mas você não presta atenção e não providencia comida, não ouve a mente. Aos poucos ela vai se esvaziando, O corpo continua a sentir fome, mas a mente não relata mais nada. Qual seria o propósito, já que não há ninguém para ouvi-la reclamar? Não há ninguém para responder. Então uma certa paralisia toma conta da mente.
Muitas pessoas que passam longos períodos em jejum acreditam ter atingido a meditação. Não é meditação, é apenas baixa energia, paralisia, insensibilidade. Movem-se como zumbis, não estão vivos. Lembre-se, a meditação irá trazer para você cada vez mais inteligência, uma inteligência radiante. A meditação o tornará mais vivo e mais sensível, sua vida se tornará mais rica.
Olhe para os ascetas: a vida deles se torna quase uma não-vida. Essas pessoas não são meditadores. Podem ser masoquistas, talvez, torturando-se e tirando prazer dessa tortura... A mente é muito astuciosa, faz uma coisa qualquer e depois racionaliza em cima disso. Em geral somos violentos uns com os outros, mas a mente é astuciosa e pode aprender a não- violência, pode pregar a não-violência. E depois se torna violenta contra si mesma. Curiosamente, a violência que você comete contra si mesmo é respeitada pelas pessoas porque elas têm uma ideia de que ser um asceta é ser religioso. Isso é uma besteira completa.
Deus não é um asceta, do contrário não haveria flores, não haveria árvores verdes — apenas desertos. Deus não é um asceta, do contrário não haveria música na vida, nem dança — apenas cemitérios. Deus não é um asceta, Deus ama a vida. Se você pensar em Deus, pense em Epicuro, pense na alegria de viver. Deus é uma busca constante por mais felicidade, prazer, êxtase. Lembre-se disso.
A mente, contudo, pode racionalizar a paralisia como se fosse meditação. Pode racionalizar apatia como transcendência, e morbidez como renúncia. Fique atento. Lembre- se sempre de que, se estiver se movendo na direção certa, você irá florescer. Muitas fragrâncias emanarão de você e você será criativo. E também sensível à vida, ao amor e a tudo que Deus colocou à sua disposição.
Mantenha um olhar penetrante dentro de sua mente — busque as motivações. Quando você fizer qualquer coisa, procure imediatamente a motivação porque, se perder a motivação, a mente irá continuar a enganá-lo e dizer que alguma outra coisa era sua motivação.
A mente o engana 24 horas por dia e ainda assim você coopera com ela. Então, no final de tudo, você está na miséria e acaba indo parar no inferno. A cada momento, busque a motivação real por trás de suas ações. Se você puder encontrá-las, a mente se tornará cada vez menos capaz de enganá-lo. E quanto mais longe você estiver desse engano, quanto mais for capaz de ultrapassar a mente, mais próximo estará de se tomar um mestre.
Procure e encontre as motivações reais. Uma vez que você se torne capaz de encontrar suas reais motivações, a meditação estará muito próxima, porque, então, a mente não mais terá controle sobre você.
A mente é um mecanismo, não possui inteligência. A mente é um biocomputador. Como poderia ter inteligência? Tem muitas habilidades, mas isso não é inteligência. Tem utilidade funcional, mas nenhuma percepção. É um robô: trabalha bem, mas não preste muita atenção nela — caso contrário, você perderá sua inteligência interior. Se isso ocorrer, será como se você estivesse pedindo a uma máquina, que não tem nada de original dentro dela, que o guie, o conduza. Nenhum pensamento da mente é original, são todos repetições. Observe. Sempre que a mente disser algo, veja como ela está tentando levá-lo de volta a uma rotina.
Pessoas que são criativas — poetas, pintores, músicos, dançarinos — são mais facilmente transformadas em meditadores. Já as pessoas que têm vidas menos criativas são mais difíceis. Se você vive uma vida repetitiva, é porque sua mente tem controle demais sobre você. Tente fazer algo novo a cada dia, e a mente terá menos controle sobre você. Não preste atenção às velhas rotinas: quando a mente disser alguma coisa, responda: “Nós estamos fazendo isso há muito tempo. Vamos fazer algo novo?”
Faça algo novo. Mesmo que sejam pequenas mudanças na forma em que você tem vivido, mesmo que sejam mudanças em sua forma de andar, na forma de falar. Mude, e perceberá que a mente está perdendo o controle sobre você — você está se tornando um pouco mais livre.
A cada momento você se renova, renasce, a consciência nunca envelhece. A consciência é sempre o filho e a mente é sempre o pai. A mente nunca é nova e a consciência nunca é velha, e a mente sempre aconselha o filho. A mente irá criar o mesmo padrão para que a consciência o repita.
Você viveu de acordo com alguns padrões até agora. Você não deseja mudar? Você pensou de uma certa forma até agora. Você não deseja obter algumas novas visões sobre seu ser? Então fique alerta e não ouça a mente.
A mente é seu passado tentando constantemente controlar seu presente e seu futuro. £ o passado morto, que permanece controlando o presente vivo. Fique alerta quanto a isso.
Mas de que forma a mente o controla? Ela usa o seguinte método: “Se você não me escutar, não será tão eficiente quanto eu sou. Se você fizer algo já conhecido, será mais eficiente, pois já fez isso antes. Se fizer algo novo, não poderá ser tão eficiente?’ A mente fala sempre como um economista, um especialista em eficácia. Fica dizendo: “É mais fácil fazer assim. Por que tentar da forma mais difícil? Este é o caminho que oferece a menor resistência?”
Lembre-se: quando tiver que escolher entre duas alternativas, escolha sempre a nova, a mais difícil, aquela na qual é necessária uma percepção maior. Escolha a percepção, mesmo que seja menos eficaz, e você terá criado a situação na qual a meditação se tornará possível. São apenas algumas situações. A meditação irá ocorrer. Não estou dizendo que basta fazer isso para que você atinja a meditação, mas certamente essas situações irão ajudar a criar um quadro propício à meditação.
Portanto, seja menos eficiente e mais criativo. Deixe-se guiar por este pensamento. Não se preocupe muito com fins utilitaristas. Em vez disso, lembre-se, constantemente, de que você não veio ao mundo para se tornar uma mercadoria. Você não está aqui para ser uma ferramenta, isso não é digno. Nem para tornar-se cada vez mais eficiente, e sim para tornar-se cada vez mais vivo, mais inteligente, cada vez mais feliz, até o êxtase da felicidade. Mas esses caminhos são totalmente diferentes dos caminhos da mente.
As pessoas estão sempre procurando caminhos para controlar as outras, caminhos que lhes possam dar mais lucro. Se for isto que você procura, estará sempre sob o controle da mente. Esqueça essa ideia de controlar outras pessoas. Uma vez que você tenha deixado de lado a ideia de controlar os outros — seja marido ou mulher, filho ou pai, amigo ou inimigo —, a mente não poderá controlar você porque ela terá se tornado inútil.
A mente é útil para controlar o mundo. É útil para controlar a sociedade. Um político é incapaz de meditar, pois ele está no outro extremo. Alguns políticos vêm me procurar. Dizem que estão interessados em meditação, mas não é exatamente meditação o que querem. Estão tensos demais e querem relaxar um pouco. Então vêm me perguntar se posso ajudá-los a aliviar suas tensões, para que tenham um pouco de paz. Digo-lhes que isso é impossível. Eles têm mentes ambiciosas, e pessoas com mentes ambiciosas não podem meditar, porque a própria base da meditação é não ser ambicioso. Ambição significa o esforço para controlar os outros. É justamente nisso em que consiste a política: o esforço para controlar o mundo inteiro. Se você quiser controlar outras pessoas, terá que ouvir a mente, porque a mente gosta muito de violência.
Você também não tem liberdade para experimentar coisas novas, pois o que é novo é sempre arriscado. É necessário tentar aplicar de novo as mesmas velhas táticas. Saiba então que, se você deseja controlar os outros, não será capaz de meditar — tenho absoluta certeza quanto a isso.
A mente vive em uma espécie de transe, uma espécie de estado de inconsciência. Você só está consciente muito raramente: quando sua vida corre perigo, por exemplo. Fora isso, a mente prossegue em seu movimento, adormecida. Fique parado na calçada e olhe para as pessoas, você verá sombras de sonhos em suas faces. Há pessoas falando sozinhas, ou gesticulando — olhe para uma dessas pessoas e você verá que ela está em algum outro lugar, e não na rua. É como se as pessoas se movessem em sono profundo.
Sonambulismo é o estado geral da mente. Se você quer se tornar um meditador, é preciso deixar de lado esse hábito de fazer as coisas adormecido. Ande, mas esteja alerta. Cave um buraco, mas esteja alerta. Coma, mas ao comer não faça nada além disso: apenas coma. Esteja alerta a cada mordida, mastigue com consciência, Não se permita vagar a esmo pelo mundo: esteja presente aqui e agora.
Você perceberá que sua mente está sempre fazendo alguma outra coisa, indo para outro lugar, pois nunca quer estar aqui. Isso porque, se a mente estiver aqui, ela não será mais necessária. No presente apenas a consciência é necessária, mas não a mente. A mente só é necessária em algum lugar do futuro, do passado, mas nunca aqui. Quando você sentir que a mente foi para outro lugar, quando você estiver em uma cidade e sua mente estiver do outro lado do mundo, fique alerta imediatamente. Volte para casa. Volte para o lugar onde você se encontra.
Ao comer, coma. Ao andar, ande. Não permita que a mente fique vagando pelo mundo.
Novamente, isso não se tornará meditação, mas ajudará em seu caminho.
As pessoas vivem adormecidas praticamente todo o tempo e aprenderam um truque: aprenderam a fazer as coisas sem perturbar seu sono. Se você se tornar um pouco mais alerta, muitas vezes irá se surpreender fazendo coisas que nunca quis fazer, coisas das quais você sabe que irá se arrepender, coisas que você havia decidido, recentemente, nunca mais fazer. E muitas vezes você se ouvirá dizer: “É, eu fiz isso, mas não sei como foi acontecer. Fiz isso contra minha própria vontade.”
Como você pode fazer algo contra sua própria vontade? Isso só é possível se você estiver dormindo. E você continuará dizendo que nunca quis isso, mas em algum lugar lá no fundo você deve ter tido um desejo. Observe sua mente: na superfície ela diz algo, mas no fundo, ao mesmo tempo, está planejando outra coisa. Fique um pouco mais alerta e não se deixe adormecer.
Pare com esses truques Seja sincero com sua mente, e o controle que ela tem sobre você irá cessar.
OSHO, “Aprendendo a Silenciar a Mente”.