A paz interior é conquista pessoal. E não há o que a perturbe mais do que guardar mágoas, ódio e rancor, cultivando a ira. Isso causa insônia, inquietação, desgosto, ressentimento, tristeza, distúrbios gástricos e mal-estar sem diagnóstico médico, a priori, que pode transformar-se em doenças. Pessoas assim às vezes procuram centros espíritas atribuindo o que sentem a espíritos obsessores, ao além, dizendo-se "carregadas", quando não estão. Elas sofrem as consequências de não perdoar tanto pequenas desavenças quanto fatos relevantes.
Ajudando-as a pensar, elas conseguem remontar às causas, que são atuais e, em geral, relacionadas a pessoas próximas, afinal não somos magoados por estranhos, a quem somos indiferentes. Estes, quando muito, despertam apenas uma irritação passageira. Os sentimentos e emoções densos dos quais precisamos nos libertar envolvem tensões relacionadas ao amor, amizade e confiança.
Ouve-se dizer: "Mas como perdoar? Como libertar esse cretino?" Aí está a questão. Fomos educados, por muito tempo, a ver o perdão como benefício ao "culpado". Mas a espiritualidade nos convida a ver o perdão como benefício à vítima, como seu direito de não se vincular ao agressor. O perdão isenta-o de muitos mal-estares e traumas. É sábio e saudável perdoar. Guardar ressentimento é tomar veneno e desejar que o outro morra. Ele não sabe o que estamos penando, tampouco sofrendo, e é nosso direito dizer: chega de sofrer!
O perdão, assim como o amor, não é um sentimento que nasce pronto. Ele se constrói diariamente. É necessário estabelecer distância tanto física quanto emocional, deixar passar as mágoas, abrir-se ao futuro, envolver-se com outras atividades, esquecer e apagar em nós os traços dos sentimentos destrutivos. O perdão estará consolidado e estaremos livres quando a lembrança do fato ou da pessoa causadora da mágoa nos for indiferente.
Ana Cristina Vargas.