Prosperidade na família

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Viver em família: o caminho do amor incondicional
Para o brasileiro, a família é a instituição mais sagrada e intocável que existe. A família deve ser constantemente protegida e salvaguardada.
Segundo o psicólogo Carl Rogers, o brasileiro sofre de uma doença chamada “malis Familis”. O portador desse mal considera a família sendo uma extensão do seu “eu”, reagindo como se toda atitude, positiva ou negativa, dirigida a família, fosse endereçada diretamente para ele. Então, quando uma pessoa de fora da família faz um agravo a um de seu membro da família; ou quando faz um favor a um membro da família, é como se tivesse favorecido a família toda.
Na família, a noção de individualidade é fragilizada, pois cada “eu” individual e os outros membros da família tornam-se uma coisas só, como se não houvesse separação. Como a individualidade não está fortalecida, há muita interferência dos componentes da família na vida de cada um. E isso é considerado como demonstração de amor, proteção e responsabilidade. A ausência disso gera na família a fama de desestruturada, já que o padrão convencional é o da interferência.
Considera-se normal dizer ao outro como deve, ou não, agir, o que deve, ou não, fazer, sem levar em conta a individualidade de cada um. Essa atitude tão comum no meio familiar representa um total desrespeito. Em nome do amor e da consideração, faz-se muitas exigências e cobranças. A mãe, por exemplo, acha que seu filho de 18 anos é muito jovem para namorar; ele deve se dedicar só aos estudos. O pobre coitado tem que ouvir esse discurso todos os dias. Pior ainda é o pai que fica meses a fio tentando convencer o filho a escolher esta ou aquela profissão.
A família, como todo grupo social, é regida por normas, regras e padrões de conduta a fim de manter seu equilíbrio e funcionamento. Os membros do grupo têm expectativas mútuas que quando não são correspondidas, acarretam conflitos. Romper com uma regra pode, muitas vezes, significar deslealdade e traição para com os membros da família. É tido como uma obrigação atender as solicitações familiares.
Um dos maiores entraves para a harmonia na relação familiar se resume em uma palavra: o deveria. Os pais “deveriam” ser mais compreensivos com os filhos, os irmãos “deveriam” ser mais amigos, os filhos “deveriam“ retribuir a atenção que os pais lhes concederam, etc. Não estou dizendo que essas coisas não sejam importantes, claro que são. Mas acredito que possam ser espontâneas e que cobrar essas atitudes dos membros da família só vai gerar desentendimentos.
É importante compreender que ninguém, mesmo na família, veio ao mundo só para nos agradar e fazer o que queremos. Não nos vemos como devedores uns dos outros, mas como companheiros numa trajetória evolutiva. Entendemos que somos pessoas com experiências diferentes, mas com qualidades e defeitos semelhantes e, por afinidades, optamos em participar do grupo familiar a que pertencemos.
Caso a pessoa solicite ajuda, essa ajuda só será efetiva e verdadeira se os familiares se limitaram a dar sugestões, que podem ser aceitas ou não. É importante deixar a responsabilidade da decisão nas mãos da pessoa. Cada um é livre para optar pelo que quer, mesmo que a opção não agrade a família.
O hábito da preocupação é também um comportamento muito comum no meio familiar. Quando alguém da família tem um problema, todos sofrem e se preocupam. A ausência de aflição é vista como desamor e desrespeito à dor alheia. A família toda se empenha para resolver a situação, quando, muitas vezes, o interessado nem solicitou ajuda. Isso é intromissão e desrespeito à individualidade do outro.
Ser solidário não significa ser responsável pelo outro, assumir o problema alheio e querer dar a sua solução. Na verdade, esse é um ato arrogante, próprio de quem se julga dono da verdade e de quem duvida da capacidade do outro autoprover.
O solidário é aquele que ajuda com sugestões ou recursos materiais, sem assumir o drama do outro.
Construir um relacionamento saudável é entender que os familiares são com são. Você pode até passar a vida inteira querendo mudá-los, mais vai se frustrar. É mais fácil e mais inteligente, aceitá-los como são.
Quando os pais educam os filhos nesses padrões, transmitem-lhes mais segurança e confiabilidade em seus próprios sentimentos e emoções.
Levar a criança a lidar com a própria responsabilidade é um caminho seguro para o sucesso nas funções que ela exercerá no futuro.
Viver em família é um exercício para se chegar ao amor incondicional.
Luiz Antônio Gasparetto, “Faça Dar Certo - Cap. 9”.