Sobre a Moralidade

terça-feira, 27 de julho de 2010

Trate simplesmente de entender a “facticidade” das coisas. Você nasceu: que esforço fez para nascer? Você cresce: que esforço terá feito para crescer? Você respira: que esforço faz para respirar? Tudo se move por conta própria, por que então preocupar-se? Deixe a vida fluir por si mesma, e você estará indo junto. Não lute nem tente ir contra a corrente,  nem mesmo tente nadar, simplesmente flutue com a corrente e deixe que o leve para aonde quiser levar. Seja uma núvem branca movendo-se no céu: nenhum objetivo, indo para lugar nenhum, simplesmente flutuando. Esse flutuar é o supremo desabrochar.
É, portanto, a primeira coisa a ser entendida: ser natural. Tudo que não seja natural deve ser evitado. Nada faça que não seja natural. A natureza é o suficiente: não podemos melhorá-la.
Mas o ego diz: não, podemos melhorar a natureza, é por isso que existe a cultura. Qualquer tentativa de melhorar a natureza é cultura, e toda cultura é como uma doença: quanto mais culto for um homem mais perigoso será. A natureza é o valor supremo, é o que há de supremo e não pode ser aperfeiçoada. Quando se tenta aperfeiçoá-la, ela é mutilada.
A cultura nos mata, é assassina, um veneno que age lentamente: é o suicídio. Quanto mais culto e civilizado, mais morto. As árvores estão em melhor situação do que você, até os pássaros, os peixes dos rios estão em melhor situação, pois têm mais vida, dançam mais ao ritmo da natureza.
Você esqueceu completamente o que é a natureza. Condenou-a radicalmente. E se quiser condenar a natureza você tem de começar condenando o sexo, pois é dele que emana toda a natureza. A natureza inteira é um transbordamento de energia sexual, de amor. Os pássaros cantam, as árvores florescem: tudo isso é energia sexual explodindo. As flores são símbolos sexuais, o canto dos pássaros é sexual, tudo na natureza é êxtase. De modo que, se quiser destruir a natureza, condene o sexo, condene o amor, erija conceitos morais em torno da vida. Esses conceitos morais por mais belos que pareçam, serão como túmulos de mármore, e você estará em seu interior. Sua moralidade é uma espécie de morte: antes de você ser morto pela morte, você é morto pela sociedade.
Deixe a natureza ser! E não lhe atribua meta alguma. Quem é você para criar metas e objetivos? Você é apenas uma partícula minúscula, uma célula atômica. Quem é você para obrigar o todo a se mover de acordo com a sua vontade?
A natureza, a energia e o êxtase que vêm com o transbordamento, assim como o equilíbrio que se manifesta espontaneamente, são o suficiente. Não é preciso nenhum esforço. Existe tanta beleza acontecendo na natureza sem nenhum esforço: uma rosa é bela sem nenhum esforço, o pássaro canta sem nenhum esforço...
Veja a natureza: tudo é tão perfeito. Será possível aperfeiçoar uma rosa? Será possível aperfeiçoar a natureza de alguma forma? Só o homem deu errado em algum momento. Se a rosa é bela sem fazer esforço, por que não o homem? O que há de errado com o homem? Se as estrelas continuam belas sem nenhum esforço, sem posições de ioga, por que não o homem? O homem faz parte da natureza assim como as estrelas.
Seja natural, e você florescerá. Sinta isso profundamente e todo esforço haverá de perder o sentido. Você deixará de estar o tempo todo providenciando coisas para o futuro, passará a viver aqui e agora, o momento presente será tudo, este momento é a eternidade. Você já é perfeito. A única coisa que falta é que você não permitiu o desabrochar, tão ocupado está em seus projetos.
“O fácil é certo. Comece certo e tudo será fácil.
Continue no fácil, e você estará certo.
O modo certo de estar no fácil é esquecer o caminho certo.
E esquecer que o fluxo é fácil”.
Relaxe na sensação de não ser ninguém. Torne-se parte desse universo relaxado - tão relaxado que você esquece tudo a respeito de facilidade ou do que é certo. Para mim, a iluminação é isso.
OSHO, “Encontro com Pessoas Notáveis”.