O Garimpo Humano (2)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Nada é estático, tudo muda. Não há milênios pra trás? Também os há pra frente. As previsões apocalípticas visam desestimular qualquer movimento de mudança mais incisivo. Não há extermínio. Pode haver hecatombes, sim, mas não o extermínio. E se houvesse essa possibilidade, isso seria mais um motivo pra lutar. Sentar e se acomodar como os usufruintes alienados, não quero condenar ninguém, mas eu teria vergonha. De mim mesmo.
Prefiro tratar com pessoas que possuem algum terreno fértil em suas consciências, com essas dá pra trabalhar. E ajuda a fertilizar e desenvolver a minha própria, que é o que eu mais preciso. As mudanças, as revoluções, se fazem no dia a dia, internamente, sem detrimento das lutas externas, de grupo, dos posicionamentos, das manifestações e apoios solidários, das reivindicações justas, do esclarecimento cotidiano.
Nem todos estão acomodados. Nem todos almejam o desfrute e o prazer materiais como finalidade de vida. Nem todos se deixam condicionar por uma mídia tão poderosa que forma valores, costumes, opiniões, sempre em benefício de empresas e em detrimento do desenvolvimento real do ser humano e da sociedade. São poucos, ainda, é verdade. É um garimpo. Mas eu percebo a formação de muitos veios, espalhados por aí. 
Um veio (vêio), no garimpo de minerais, é onde se encontram grande quantidades de pedras, ou ouro, num lugar só, a sorte grande do garimpeiro. No meio humano, já vi muitos veios preciosos, funcionando dentro da coletividade, de todos os tipos, formas e qualidades. Com o tempo, fui percebendo o fenômeno da evolução espalhada e, aparentemente, desconectada. O trabalho está sendo feito. Sem anúncio, sem alarde, em toda parte, em todos os níveis. Sem que se perceba e é bom que assim seja. A estrutura dominante está pronta pra esmagar qualquer ameaça de mudança, venha das ruas, dos grupos, dos gritos, através do terrorismo, do combate direto ou indireto, explosivos ou informações. Esse grande esquema só não está preparado pra consciência. Por isso tanto investimento em entretenimento, em condução da opinião pública, em idiotização, em infantilização pela mídia da mentalidade geral. Assim, roubam os direitos fundamentais da maioria e atiram grande parcela da população na ignorância, na pobreza e na miséria. O mandamento moral, agora, é conscientizai-vos uns aos outros. Esse é o trabalho que está sendo feito. Sem controle aparente, aparentemente espontâneo.
Participar desse trabalho é preciso, pros que não se contentam com pouco, com o que a sociedade apresenta como ideal de vida. Pros que não se deixam enganar e se sentem parte dessa coletividade narcotizada. Pros que não se identificam, nem se conformam com essa estrutura social injusta, mediocrizante, manipuladora, mentirosa e criadora de problemas pra esmagadora maioria. E o trabalho começa dentro. Os que se limitam a lutar por mudanças na sociedade, a partir do externo, não desenvolvem em si a força da mudança. Desistem ou se acomodam com a forma sem conteúdo da revolução sem raízes, com verdades impostas e subalternidade cultural.
As verdadeiras exceções estão aí, é um imenso prazer e um incentivo reconhecê-las, vez por outra.
http://observareabsorver.blogspot.com/2011
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