A mente sempre procura um atalho onde a oposição seja menor. Então ela diz: "Por que preocupar- se em se tornar um homem bom? Basta acreditar que se é bom." Isto é fácil porque nada tem de ser feito. Basta pensar que se é bom, criar uma imagem de que se é bonito, celestial, de que ninguém é como você. E esta ilusão de bondade lhe dá energia para viver.
Se as ilusões podem lhe dar tanta energia, você já imaginou o que acontecerá quando a Verdade surgir? A ilusão de que você é bom lhe dá vida para mover-se, energia para sustentar-se, lhe dá confiança. Com a ilusão, você pode tornar-se quase centrado. Esse centro que acontece na ilusão, entretanto, é o ego.
Quando você esta realmente centrado, esse centro é o Eu. Mas isso só acontece quando a Verdade já foi realizada: quando suas energias internas já foram transformadas; quando o mais baixo transformou-se no mais alto, o terreno no celestial; quando o Diabo tornou-se Divino; quando você estiver radiante com a glória que é sua; quando a semente tiver brotado, quando a semente de mostarda tiver se transformado numa grande árvore.
Mas este é um longo processo, é preciso ter coragem para esperar, é preciso não se deixar tentar pelo atalho. E, na vida, não existem atalhos — eles só existem nas ilusões. A vida é árdua porque só por meio de árduos esforços o crescimento acontece — ele nunca vem facilmente.
Você não pode conseguí-lo de um modo barato; nada que é barato pode auxiliá-lo a crescer. O sofrimento auxilia — o próprio esforço, a própria luta, o longo caminho lhe dão a clareza, o crescimento, a experiência, a maturidade. Como uma pessoa pode adquirir a maturidade através de atalhos? Existe uma possibilidade — atualmente estão fazendo experiências com animais e, mais cedo ou mais tarde, trabalharão com seres humanos — existe uma possibilidade: você pode ser injetado com hormônios. Uma criança de dez anos pode receber injeções de hormônio e transformar-se num jovem de vinte anos.
Contudo, você acha que ele atingirá a mesma maturidade que teria conseguido se tivesse passado por dez anos de vida? A luta, o surgimento do sexo, a necessidade de controle, de amor; de ser livre e ao mesmo tempo controlado, de ser livre e simultaneamente centrado; de conviver com os outros, de sofrer por amor, de aprender — tudo isso não estará presente. Esse homem que aparentar vinte anos, na realidade terá apenas dez. Por meio de hormônios, é possível desenvolver apenas o corpo.
Estão fazendo isso com animais, com frutas, com árvores. Uma árvore pode ser injetada e, ao invés de florescer em três anos, de um modo natural, florescerá em apenas um. Mas suas flores estarão carentes de alguma coisa. Será difícil perceber porque você não é uma flor; mas algo estará faltando nelas. Elas terão sido forçadas, não terão passado por todas as estações. As frutas surgirão logo, mas não estarão amadurecidas; alguma coisa estará faltando nelas, serão artificiais.
A natureza não tem pressa. Observe: a mente está sempre com pressa enquanto a natureza nunca está — a natureza espera sempre, ela é eterna. Não tem necessidade de pressa; ela é contínua, é eterna. Para a mente, o tempo é curto. Então, ela diz: "Tempo é dinheiro". A vida nunca diz isso. A vida diz: "Experiência", não tempo. A vida espera, ela pode esperar; a mente não pode — a morte está se aproximando. Para a vida, não existe nenhuma morte. A morte só existe para a mente.
A mente tenta sempre encontrar um atalho. E a maneira mais fácil de encontrá-lo é criar uma ilusão: pensar que é aquilo que quer ser — então, a pessoa torna-se neurótica. Foi isso o que aconteceu com a maioria das pessoas que estão nos hospícios. Pensam que são Napoleão, Alexandre ou qualquer outro. Acreditam nisso e comportam-se como se o fossem.
A mente encontra atalhos. As ilusões são atalhos. "Maya" o que existe de mais fácil e mais barato para se adquirir. A realidade não, ela é dura, árdua: é preciso sofrer e passar pelo fogo. Quanto mais você passa pelo fogo, mais amadurecido fica; quanto mais amadurece, mais valor adquire. Sua divindade não pode ser comprada num mercado, não pode ser pechinchada. Você tem de pagar por ela toda a sua vida. Apenas quando você arrisca toda sua vida, ela acontece.
Você luta contra os outros porque essa é uma maneira fácil. Você fica pensando que é bom, que o outro é que é mau e a luta fica no exterior Mas se olhar para si mesmo, a luta tornar-se-á interior: verá que é mau, que é difícil encontrar uma pessoa mais demoníaca que você. Se conseguir olhar para dentro, verá que é absolutamente mau e que algo tem de ser feito. Uma luta interior, uma guerra interior será então iniciada.
Pelo conflito interno — não se esqueça de que ele é uma técnica, uma das melhores técnicas já utilizadas através dos séculos — se o conflito interno acontece, você se torna integrado. Se o conflito interno existe, surge além das partes conflitantes um novo centro de sabedoria. Se o conflito existe, suas energias são envolvidas, todo o seu ser torna-se agitado: o caos é criado e desse caos nasce um novo ser.