À sombra do passado

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Estou aqui para escrever sobre o Pendurado. O próprio nome já indica o sentido da carta: pendurado, parado, estagnado, estacionado. Outro nome para essa carta é Enforcado. Qualquer que seja a denominação, aqui mexemos com uma situação contrária a da Roda da Fortuna. Temos ausência de movimento, nenhuma novidade, oscilação inexistente. O que faz alguém não oscilar, não titubear, não mudar? Os padrões. As raízes. O tempo. O hábito. Os costumes. Isso tudo pode, erroneamente, ser confundido com segurança.
Nem sempre ter padrões significa ter problemas. Muito menos as raízes provocam estagnação. Os hábitos e costumes não servem apenas para estacionar alguém. Contudo, não desenvolver a capacidade de adaptação pode, sim, criar “mofo” nas raízes e cristalizar o que é de costume, deixando obsoletos os padrões. Ou seja, não é “errado” ter opinião, ter hábitos, ter passado. Mas pode ser prejudicial não ter abertura para o que ainda é desconhecido. O Pendurado tem conhecimento, espiritualidade, poesia. Mas não tem vida. A vida que muda, que agita, que assusta e agrada. Essa falta arranca o brilho e a habilidade de perceber tudo e todos que estão a nossa volta. É por isso que o Pendurado vive o ontem no dia de hoje. E olha para o amanhã esperando rever o ontem.
A internet pode exemplificar muito bem um comportamento “Pendurado”. Por mais moderna que seja, ela resgata pessoas, dá a chance de revisitarmos o “passado”. É frequente vermos pessoas que se reencontram na internet e, por algum tempo, acreditam que poderão reviver o que já passou. Repito: nada de errado em rever, reencontrar, revisitar. O problema está em olhar as pessoas com olhos antigos e esperar delas as antigas atitudes. O Pendurado ignora a mudança natural, que está presente em tudo. Não é possível esperar que alguém seja a mesma pessoa tanto tempo depois. Não é possível estarmos iguais, também, depois de tanto tempo. E, mesmo que estejamos iguais, os tempos mudam, as circunstâncias não são mais as mesmas, a vida se altera. E isso tudo, querendo ou não, muda a gente, mesmo que não se queira mudar. Por isso, seguem abaixo algumas dicas para colocar um pouco de realismo num “Momento Pendurado”:
* Olhar para trás com olhos atuais é se condenar a um sofrimento desnecessário (daí vem a culpa, a mágoa, o arrependimento e uma cobrança desnecessária sobre si e sobre os outros);
* Esperar um resultado diferente, tentando fazer as mesmas coisas, também pode ser auto condenação;
* Achar que é o outro que deve mudar, porque nada deu certo em função dele, é se iludir;
* Tentar congelar aquela fase passada como a melhor da vida é proibir-se de ser feliz futuramente;
* Querer o que já se teve (e não se tem mais) é ter medo do futuro;
* Sentir medo do desconhecido pode ser normal, mas evitá-lo tentando reviver coisas antigas pode se tornar utópico.
Sendo assim, ficam as dicas básicas para lidarmos com nossas próprias “pegadinhas pessoais”. Nos exigimos demais, muitas vezes, querendo ter uma segunda chance. Cobramos resultados de uma época na qual não tínhamos a experiência que temos hoje. Buscamos respostas para os problemas atuais num passado que nem sempre é relembrado de forma imparcial. E é por isso que a carta indica tendência à dor. Porque podemos nos impor essa dor, por quanto tempo quisermos, já que nosso passado está logo ali e o futuro não dá sinal de ser tão bom quanto poderia ser. Por essa razão podemos (e devemos) fazer um esforço para perdoar o passado, compreendê-lo, deixá-lo no tempo adequado e adquirir forças para viver o dia de hoje, olhando pra frente sem medo, buscando evoluir, e não apenas revisitar, toda uma vida que está (sempre) pela frente.
Kelma Mazziero.
http://blog.kelmamazziero.com.br/?p=244