Todo mundo é gente (1)

domingo, 17 de outubro de 2010

Há tanta coisa para experimentar e, assim, vamos perdendo o medo de viver. Vamos ganhando terreno dentro de nós, nos abrindo, sentindo que há tanto para se fazer. É tão bom quando a gente perde o medo dos outros, porque ninguém é perigoso. A gente vê que a pessoa pode ser relativamente perigosa, no sentido de não ser muito evoluída, de não ter uma moral muito esmerada, de ser capaz de fazer alguma coisa de que a gente não vá gostar. Mas, fora isso, todo mundo é gente.
Chegando com jeito, todo mundo responde bem. Se você já chega com medo, não pode passar outra energia senão a de medo mesmo. Agora, se você já chega com confiança em si, mas atento para ver bem como é o jeito da pessoa, e se chega com o coração aberto, bem bom, então o que acontece? As pessoas sentem a energia, a confiança e respondem positivamente.
Tudo depende de como a gente puxa, de fora, o lado bom das pessoas. O que não significa que você vá deixar de ver que a pessoa pode ser belicosa, que pode ser um pouco nervosa, primitiva, mal- educada. Mas a gente já vai chegando sem medo de nada disso.
Eu não tenho medo de má educação nem de cara feia. Não tenho medo nem de resmungo, nem de pancudo fardado, nem de assassino ou de homem com revólver na mão. Não tenho medo de nada. O que é isso, minha gente? É tudo bobagem da cabeça. Vocês ficam acreditando na encenação que as pessoas fazem. O que é esse pessoal que veste farda, que tem cara de político? É tudo gente.
- Ah, porque é um artista famoso. É tudo igual. Vocês ficam na ilusão dos personagens que as pessoas fazem. 
- Ah, porque ele é um médico. Tudo isso é personagem. Todo mundo é gente. E se você não perceber que todo mundo é gente, vai se decepcionar. 
- Aquele lá é o pastor, é um homem santo. Mentira, minha gente. Tudo é gente. 
- Mas aquele lá é um desgraçado. 
- Não, minha filha, ele é gente como você. 
- Ah, mas é um filho da mãe... - É, mas é gente. 
Você não pode ter medo de nada nem desfazer ninguém. Claro que não vai fazer tudo o que os outros querem. A gente também não pode fazer isso, nem vai deixar de impor respeito. Agora desfazer, minha gente? Por que vocês desfazem uns dos outros? Por acaso Deus lhe deu menos vida do que deu ao outro ou mais? Não, Deus deu vida a todo mundo. Claro que se eu perguntar: "Você acha que todo mundo é igual?", vai me responder: "Ah, Calunga, claro, todo mundo é filho de Deus. É igual".
Da boca para fora, porque lá dentro você não é assim. É cheio de preconceitos. Se é pobre, mal vestido, você trata de um jeito. Se é rico, cheiroso, você já trata de outro. Se é branco, é de um jeito; se é preto, é de outro. Uai, não venha me dizer que não estou vendo vocês, porque estou. São vocês que não querem ver que fazem as diferenças, sem perceber que tudo é gente.
Se você não conseguir perceber que tudo é gente comum, você nunca vai entender o espírito das pessoas. Não vai poder se comunicar, atingindo o espírito. Quando a gente se comunica e atinge a alma das pessoas, elas são maravilhosas. Elas abrem o coração, elas se põem de boa vontade, se tornam cooperativas, respeitosas. E não precisa ficar adulando. Não é isso, não.
- Ah, você que é maravilhoso, Calunga.
- Não precisa disso, não! Muito obrigado pela sua admiração. Mas eu não preciso disso. Talvez você precise admirar alguém e achar que o outro é muito grandão. Eu não preciso desses elogios. Não preciso de nada disso. Claro que você tem a liberdade de dizer o que quiser e eu respeito. Não estou criticando, mas eu não preciso de elogio. Sou uma pessoa comum, como qualquer outra e não vou me perder por um elogio. Meu plano é outro, diferente do de vocês, mas estou aqui na minha luta, na minha peleja. Agora, todo mundo é gente
Estou dizendo isso não é para me promover. Estou falando porque quero que vocês aprendam a se promover de verdade, que aprendam a ir além das aparências para tocar o coração e ter uma comunicação verdadeira com as pessoas. Não podemos estar com tantas pedras assim nas mãos, estar com tanta defesa contra o povo.
Eu sei, minha filha, que tem gente chata. Tem, sim, gente muito chata que parece cheia de viscosidade, gente que quer ser afetiva e terna forçadamente, mas é uma pessoa medrosa, que não tem coragem de ser ela mesma e se esconde dos outros. Por que se esconder? Porque ela mesma se desfaz, se rejeita, se desaprecia, se despromove e se desqualifica. Procura fazer o que ela acredita que vá lhe dar alguma promoção diante dos outros.


Calunga, "Tudo pelo Melhor".