Amar é deixar livre

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quem é que pode cumprir a promessa do coração quando não sabe nem como vai estar amanhã? Promessa é perda de tempo. Se a gente for sincero, de verdade, vai oferecer o que tem no momento e tudo o que pode saber no momento. Vai viver com sinceridade, com amizade, com sensibilidade. Isso, sim, é importante. Que o momento seja revestido de algo bom, sem amanhã.
Mas você começa um namoro já pensando se vai dar certo. Já está pensando no amanhã, já está querendo prender a pessoa no seu egoísmo. Ela percebe isso e se assusta. Ou se é ela quem faz isso, você começa a se desinteressar, a achar que ela tem algum problema.
Você também faz exigências: tem que ser trabalhador, tem que ser bom, tem que ser assim, tem que ser assado. Mas você precisa abrir o coração e a mente para perceber que todo mundo é como os amigos. Tem gente que serve para uma coisa, tem gente que serve para outra. Tem gente que você pode conviver com profundidade, porque é uma companhia muito boa, e tem gente que só pode conviver de vez em quando.
Namoro é a mesma coisa. Há muitas formas de namorar, mas a melhor é a que não faz exigências. Tem que ser a que deixe a pessoa livre para crescer e para experimentar. Amar uma pessoa é dar a ela a liberdade de ser ela mesma, de se expressar.
O que o ser humano não tolera mais é que não tenha espaço para se expressar, para trazer de dentro dele o que a natureza colocou de original, como uma necessidade fundamental, como uma busca. Se o relacionamento for para sugar a pessoa, para restringir a sua vida, ela não vai aguentar. Cedo ou tarde, ela rompe com aquilo.
Há muitas uniões temporárias que dão certo, porque um ajuda o outro a segurar seus medos, sua situação. Não são eternas, porque ali existe uma dependência e não uma amizade. Gostar mesmo é amizade. Se você abrir o seu coração e sua mente, vai perceber que hoje há muita gente pronta para esse tipo de relacionamento.
Qualquer um dá palpite na vida do outro, fala o que quer na cara do outro. E você acha que isso é intimidade? Eu acho que é confiança demais. É a pessoa folgada, que vai dizendo o que você tem que fazer, como se ela soubesse o que é bom para os outros.
Você acha que os outros vão gostar dessa invasão na vida deles? Vai começar o bate-boca. O povo vai falar mal de você, dizer que você toma muita confiança. Então não deixe os outros tomarem confiança e não tome também, principalmente no namoro, que é uma situação delicada.
O namoro é um jogo sutil de energias sutis, de contorno afetivo profundo. São momentos de transfusão energética, em que nós nos sentimos humanos, nos sentimos profundos. A procura de uma intimidade na cama tem muito mais a ver com o encontro da profundidade interior entre duas pessoas do que propriamente a ginástica física e sexual.
O orgasmo é bom, mas a liberação do espírito é muito mais forte e muito mais satisfatória. Traz para você a complementação do seu dia, a visão do mundo espiritual. Isso é feito na sutileza do amor, do namoro. Por isso, é preciso ter delicadeza e a delicadeza pressupõe não tomar muita confiança.
Se a pessoa se oferece é uma coisa. Mas se a pessoa não se oferece é porque não está segura para isso. Então, não pegue, não tome, não exija, não invada, porque você vai perder. Ou vai encontrar na sua vida alguém que faça o mesmo.


Calunga, "Um Dedinho de Prosa".