Deus não é, na verdade, o ponto central da inquirição religiosa - a morte é. Sem a morte, não haveria religião nenhuma. É a morte que faz o ser humano buscar o transcendental, a imortalidade.
A morte nos cerca como o oceano cerca uma pequena ilha. A ilha pode ser inundada a qualquer momento. O momento a seguir pode nunca acontecer, o amanhã pode nunca chegar.
Os animais não são religiosos pelo simples fato de que não têm consciência da morte. Eles não podem se imaginar morrendo, embora vejam outros animais morrendo.
Trata-se de um salto quântico ver um ser morrendo e concluir: "Eu também vou morrer". Os animais não estão tão alertas, tão conscientes, a ponto de chegar a essa conclusão.
E a maioria dos seres humanos é também subumana. Um homem só é maduro quando ele chega a esta conclusão: "Se a morte acontece para todo mundo, eu não posso ser uma exceção". Depois que essa constatação cala fundo no seu coração, a sua vida pode nunca mais ser a mesma.
Você não conseguirá continuar apegado à vida assim como antes. Se ela um dia será tirada de você, então para que ser tão possessivo? Se ela vai acabar um dia, então para que se apegar e sofrer?
Se a vida não vai durar para sempre, então por que ficar infeliz, angustiado, preocupado desse jeito? Se ela está escoando a cada dia que passa, não importa quando ela vai acabar. Então o tempo não tem importância - hoje, amanhã, depois de amanhã, a vida vai escorrer pelos vãos dos nossos dedos.
Osho, em “O Livro do Viver e do Morrer: Celebre a Vida e Também a Morte”.