Tem sempre um pessoal que procura ver o lado pior, mas eu não vejo isso, não. Quando falo das coisas ruins do ser humano é na tentativa de tirar aqueles que estão na ignorância, mas há os outros que não estão na hipnose, que é a maioria, comendo essas laranjas bonitas. Minha gente, quando eu estava aí, laranja era uma coisa pequena, horrorosa. Eu lembro, sim, não faz tantos anos assim. Só um século, cem anos é pouco. Não tinha nada disso: maçã, uva. As bananas-maçã eram todas em pedradas. Tinha abacate, manga doce, jabuticaba. Mas tudo pequeno, meio mirrado. O boi era meio magro. Se queria banha, tinha de ser de porco mesmo. Hoje tem todo tipo de banha: vegetal. Só tinha manteiga na minha época, agora vocês têm margarina. Que mundo rico!
-E pão? Uai, pão tinha que fazer e levava uns dias. Hoje você vai na padaria e tem mais de cem tipos de pão, de tudo quanto é gosto. E, às vezes, o trigo era caro, porque não havia no Brasil, era importado. Hoje tem de tudo, tem vinho. Meu Deus, que mundo rico. Hoje, vocês comem frango todo dia. Prontinho, vai lá, pega e come. No meu tempo, para comer tinha que matar. Ia no galinheiro escolher o que iria fazer, já bem cedo. Acordava cinco horas da manhã para matar frango e ver se podia cozinhar para o almoço. É, minha filha.
Você já imaginou? Levantando às cinco, descendo lá embaixo do prédio, abrindo o galinheiro para matar um frango e fazer uma canja. Você já imaginou? E vocês ainda acham que o mundo não melhorou? Uai, como é que não melhorou? Hoje mata tudo automático, na máquina. Pelo menos é melhor do que ficar puxando o pescoço da galinha às cinco horas da manhã. Não é nada agradável. Não é não. E a vida está boa, pois tudo está fluindo para o melhor.
Se você quer o melhor,
Faça tudo pelo melhor!
Calunga, "Tudo pelo Melhor".
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