Quando Jesus disse: "O Reino de Deus é como a semente de mostarda", estava dizendo milhões de coisas. Esta é a beleza da parábola: com quase nada, quanta coisa pode ser dita!
Quando a semente morre, surge o universo, a árvore, o Reino de Deus. Se você estiver procurando este reino em algum outro lugar, estará procurando em vão. Se quiser encontrar o Reino de Deus, terá de ser como a semente e morrer. Então, de repente, a árvore surgirá. Você não mais existirá, apenas Deus, você nunca encontrará Deus. Se você estiver presente, Deus não estará. Quando você desaparecer, Deus surgirá. Na realidade, o encontro não acontece.
Quando VOCÊ não existe, Deus está presente — o vazio em suas mãos. Quando você não é mais ninguém, Deus está presente. Novamente um paradoxo: a semente contém a árvore, mas a semente também pode matar a árvore. Se a semente ficar com medo da morte, então o próprio invólucro tomar-se-á uma prisão; a própria casca que estava protegendo a árvore antes dela encontrar o solo certo tornar-se-á uma prisão — então a árvore morrerá na semente.
Vocês são como sementes que se tornaram prisões. Buda é uma semente, Jesus é uma semente, cuja casca não é mais uma prisão; é uma semente, uma casca que morreu, dando origem a uma árvore.
Ele lhes disse: "É como a semente da mostarda — a menor entre todas as sementes, mas que quando cai em terra fértil deu origem a uma grande árvore que se torna abrigo para todos os pássaros do Céu."
"... mas quando cai em terra fértil..." A terra certa é necessária. Apenas a morte da semente não é suficiente, porque ela pode morrer numa pedra e então nenhuma árvore nascerá; haverá apenas a morte. É preciso encontrar o solo certo, a terra certa — este é o sentido de ser discípulo. Ser discípulo implica em preparo, em aprendizado para tornar-se terra fértil. A semente existe, mas a terra certa, a terra fértil tem de ser encontrada. A árvore já está em seu interior; a única coisa que o Mestre pode lhe dar é a terra certa. Ele pode cultivá-lo, pode jogar fora as ervas daninhas, pode tornar o solo rico para recebê-la. Pode enriquecer o solo com fertilizantes — ele é um jardineiro.
Você já contém tudo, mas precisa de um jardineiro; do contrário, jogará as sementes em qualquer lugar. Elas poderão cair no asfalto e morrer, poderão cair na calçada e as pessoas pisarão sobre elas e as matarão. É necessário alguém para protegê-lo quando você estiver morrendo. Observe o que acontece quando uma criança vai nascer: ela precisa de uma parteira. A parteira é necessária porque o momento é delicado. E o momento em que a Verdade nasce é o maior, o momento em que Deus nasce em você é o maior — o maior de todos os momentos. O Mestre é apenas a parteira.
Sem um Mestre muitas coisas podem acontecer: pode haver um aborto e a criança morrer. O Mestre é necessário para protegê-lo porque o novo broto é muito delicado, indefeso — algo pode lhe acontecer. É muito perigoso. Mas se você confiar — a confiança é necessária; caso contrário, você poderá ficar tenso e a semente nunca morrerá — mas se confiar, a semente morrerá. A confiança é necessária porque a semente não pode conhecer a árvore. A semente quer ter certeza de que ao morrer tornar-se-á uma árvore. Mas o que se pode fazer para que a semente tenha certeza? Este é o absurdo da fé. A fé é absurda.Você quer ter certeza de que poderá tornar-se um sannyasin, que poderá renunciar a tudo, que estará pronto para morrer. Mas quem lhe garante que quando a semente morrer a árvore surgirá? Quem pode lhe dar essa garantia? Como essa garantia pode ser dada? E mesmo que seja dada, quem irá cobrar essa garantia quando a semente não mais estiver aqui? Quem poderá provar para a semente que quando ela morrer a árvore surgirá? Nenhuma garantia é possível.
É por isso que a fé é absurda: ter fé significa crer naquilo que não pode ter crédito; não existe nenhum jeito de acreditar e ainda assim você crê. A semente morre com uma profunda confiança e a árvore nasce. Mas uma "terra fértil" é necessária, o solo certo é necessário. Todo o aprendizado do discípulo é justamente no sentido de tornar-se uma terra cultivada.
OSHO, “A Semente de Mostarda”.