Você tem de ficar consciente do seu corpo e do que está fazendo com ele...
Um dia Buda estava em meio a uma das preleções que fazia todas as manhãs quando o rei chegou para ouvi-lo. Ele ficou sentado bem na frente do Buda, mexendo o tempo todo com o dedão do pé. Então o Buda parou de falar e olhou para o dedão do rei. Quando ele olhou para o dedão, o rei obviamente parou de mexê-lo. O Buda então voltou a falar e o rei recomeçou a mexer o dedão. O Buda então perguntou ao rei: — Por que está fazendo isso?
O rei disse: — Só quando você para de falar e olha para o meu dedão do pé é que eu me dou conta do que estou fazendo; se você não olhar, eu não percebo.
O Buda respondeu: — Esse é o seu dedão e você nem se dá conta dele... Quer dizer então que você pode até matar alguém e nem se dar conta disso!
É justamente por isso que as pessoas têm sido assassinadas sem que os assassinos sequer se deem conta disso. Nos tribunais, muitas vezes os acusados negam veementemente que tenham assassinado alguém. No início, o mais comum é que se pense que eles estejam simplesmente mentindo, mas depois descobre-se que não se trata disso; os acusados cometeram o crime num estado de profunda inconsciência.
Estavam tão furiosos, com tanta raiva no momento do crime, que foram tomados por essa fúria. E, quando você está furioso, seu corpo produz toxinas que contaminam o sangue. Quando está encolerizado, você é vítima de uma loucura temporária. E a pessoa acaba se esquecendo totalmente disso, porque estava totalmente inconsciente do que fazia.
E é assim que as pessoas se apaixonam, matam umas às outras, suicidam-se, fazem todo tipo de coisa.
O primeiro passo para ficar consciente é prestar atenção ao próprio corpo. Bem aos poucos, você começa a ficar atento a cada gesto, a cada movimento. E, à medida que fica consciente, um milagre começa a acontecer: muitas coisas que costumava fazer você simplesmente não faz mais. Seu corpo fica mais relaxado, começa a ficar mais sintonizado, uma paz profunda começa a invadir todo o seu corpo, uma música sutil pulsa dentro de você.
Então você começa a se dar conta dos seus pensamentos — o mesmo tem de ser feito com relação a eles. Os pensamentos são mais sutis que o corpo e, evidentemente, mais perigosos também. Quando se der conta dos seus pensamentos, você ficará surpreso com o que se passa dentro de você.
Se tomar nota de tudo o que está passando pela sua cabeça agora, você vai ficar muito surpreso. Não vai nem acreditar — "Estou pensando nisso tudo?". Experimente tomar nota de tudo por dez minutos. Feche as portas, tranque as portas e janelas para que ninguém possa entrar, e então seja absolutamente honesto — e vá acendendo logo o fogo para que possa queimar esse papel! — assim ninguém mais ficará sabendo o que você pensa.
Mas seja bem honesto; escreva tudo o que passar pela cabeça. Não interprete nada, não mude nada, não comece a pôr nada em ordem. Simplesmente coloque os pensamentos no papel da forma como eles vierem, sem mudar uma palavra.
E, depois de dez minutos, leia o que escreveu — você verá que existe uma mente insana aí dentro! Você não se dá conta de toda essa loucura que passa continuamente pela sua mente como uma corrente subterrânea. Essa loucura afeta tudo o que é importante na sua vida. Ela afeta qualquer coisa que você faça; afeta qualquer coisa que deixe de fazer, afeta tudo. E a soma total disso tudo vai ser a sua vida!
Portanto, esse louco precisa mudar. E o milagre da consciência consiste no fato de que você não precisa fazer nada a não ser tomar consciência. O próprio fenômeno de observar esse louco vai fazer com que ele mude. Muito lentamente, esse louco dentro de você desaparece.
Bem devagar, os pensamentos começam a seguir um certo padrão: esse caos deixa de ser um caos e torna-se mais um cosmo. E, então, mais uma vez prevalece uma profunda paz. E, quando o seu corpo e a sua mente estiverem em paz, você verá que eles também entram em sintonia; surge uma ponte. Agora eles não correm mais em direções opostas, não cavalgam cada um no seu cavalo.
Pela primeira vez na vida, existe um acordo, e esse acordo é extremamente útil para que se dê o terceiro passo, ou seja, tomar consciência dos sentimentos, das emoções e dos estados de ânimo. Essa é a camada mais sutil e mais difícil, mas, se você conseguir tomar consciência dos seus pensamentos, só faltará mais um passo.
É preciso uma consciência um pouco maior quando você começa a refletir sobre seus estados de ânimo, suas emoções, seus sentimentos.
Assim que você estiver consciente de todos os três, eles se unirão, formando um só fenômeno. E, quando se tornarem uma coisa só, atuando juntos com perfeição, no mesmo ritmo, você conseguirá sentir a música de todos os três — elas virarão uma orquestra —, fazendo com que surja um quarto elemento, que não depende da sua vontade; ele surge espontaneamente, é uma dádiva do todo. Uma recompensa para todos que chegam até aqui.
Esse quarto elemento é a consciência definitiva que faz de você uma pessoa desperta. Fica-se consciente da própria consciência — esse é o quarto elemento. Isso é o que faz de alguém um buda, um ser desperto. E é somente com esse despertar que a pessoa vem a saber o que é bem-aventurança.
O corpo conhece o prazer, a mente conhece a felicidade, o coração conhece a alegria, o quarto-elemento conhece a bem-aventurança. A bem-aventurança é o objetivo, e a consciência é o caminho que leva até ela.
Osho, "Consciência: A Chave Para Viver em Equilíbrio".