Ele não era um espírito. Muitos mestres continuam nos visitando frequentemente, em espírito. Buda ainda bate à sua porta, mas em espírito. Entretanto, se você não consegue ver uma pessoa que esta encarnada, como pode reconhecer Buda?
Neste século, quando Helena P. Blavatsky descobriu — ou redescobriu — a existência de Mestres em espírito que continuam trabalhando e auxiliando as pessoas que estão em busca de religião, ninguém acreditou nela. Achavam que estava enlouquecendo e diziam: "Queremos provas — onde estão esses mestres?" Um dos maiores sucessos da Teosofia foi a redescoberta dos Mestres porque nenhuma pessoa que se ilumina deixa o mundo; não existe para onde ir. Esta é a única existência que há. Então ela permanece, mas sem corpo, o seu Ser continua agindo, auxiliando, porque essa é á sua natureza.
E como a luz: existe e está sempre iluminando tudo o que se encontra ao seu redor: Mesmo que um caminho esteja abandonado e ninguém passe por ele, a luz continua iluminando, porque esta é a sua natureza. Se alguém vier por esse caminho, ela estará presente e o guiará; não que ela tenha que fazer isso— é apenas sua natureza. Sempre que um ser se ilumina, torna-se um guia. Mas você não pode reconhecer um guia em espírito se não consegue reconhecer um guia encarnado. Jesus diz: "Tornei-me Homem e apareci diante deles — eu estava encarnado, eles podiam me ver, podiam me ouvir, podiam me sentir, mas não o fizeram. Não o fizeram porque estavam todos bêbados. Na realidade, eles não estavam presentes, não tinham consciência. Bati em suas portas, mas não os encontrei em casa". Se Jesus chegar e bater na sua porta, você estará presente para recebê-lo? Estará em qualquer outro lugar, pois nunca está em casa. Pode ser encontrado em qualquer lugar do mundo, menos na sua casa. Onde é a sua casa? Dentro de você, onde está o centro da consciência, aí é a sua casa. Mas você só está em casa quando entra em profunda meditação, pode reconhecer Jesus imediatamente — o fato de ele estar encarnado ou desencarnado, não faz diferença. Se estiver em casa, reconhecerá a batida. Mas, se não estiver, o que se poderá fazer? Jesus baterá e você não estará lá para recebê-lo. Esse é o significado da palavra "embriagado": não estar em casa.
Na realidade, sempre que você quer se esquecer de si mesmo, toma álcool ou drogas. A bebida significa esquecimento e a religião em seu todo consiste na recordação. É por isso que todas as religiões investem contra a bebida. Não que ela tenha em si alguma coisa errada; se você não estiver trilhando o caminho religioso, não há nada de errado nela. Mas se você está neste caminho, então não pode existir nada mais errado, porque este caminho consiste na recordação de si mesmo — e a bebida é o esquecimento.
Mas por que você quer se esquecer de si mesmo? Por que anda tão aborrecido consigo mesmo? Por que você não pode estar alerta e tranquilo? Qual é o problema? O problema é este: sempre que você está alerta, só, sente-se vazio; sente-se como se não fosse ninguém. Sente um nada dentro de si e esse nada se torna um abismo. Você se assusta e começa a fugir dele.
Bem no fundo, você é um abismo, e é por isso que continua fugindo. Buda chamou esse abismo de "não-eu", Anatta. Não há ninguém dentro. Quando você olha, vê uma vasta extensão, mas não há ninguém — apenas um céu interior, um abismo infinito, sem fim, sem começo. No momento em que o vê fica atordoado, começa a correr, foge imediatamente. Mas para onde poderá fugir? Onde quer que você vá, esse vazio o acompanhará, porque ele é você. É o seu Tao, a sua natureza. Você tem de encará-lo.
Meditar nada mais é que encontrar-se com o seu vazio interior: reconhecendo-o, não escapando, vivendo através dele, não escapando, sendo através dele, não escapando. Então, de repente, o vazio torna- se a plenitude da vida. Quando você não foge, ele é a coisa mais bela, a mais pura, porque só o vazio pode ser puro. Se algo existe dentro dele, é por que ele foi maculado; se existe qualquer coisa nele, então a morte entrou; se algo existe lá, então a limitação entrou. Se há alguma coisa nele, então Deus não pode estar. Deus significa o grande abismo, o supremo abismo. O abismo está presente, mas você nunca é treinado para olhar para dentro dele.
É exatamente como ir às montanhas e olhar para o vale: você fica atordoado. Então não quer olhar, porque um medo o invade — você pode cair. Mas nenhuma montanha é tão alta e nenhum vale é tão profundo quanto o vale que existe no seu interior. Sempre que você olhar para dentro, sente uma tontura, uma náusea — e imediatamente foge, fecha os olhos e começa a correr. Você tem corrido por milhões de vidas, mas não chegou a lugar nenhum, porque não pode.
É preciso encontrar-se com o vazio interior. Quando você mergulha nele, repentinamente o vazio muda sua natureza — torna-se o Todo. Então não é mais vazio, não é mais negativo; é a coisa mais positiva da existência. A aceitação é a porta.
OSHO, “A Semente de Mostarda”.