A mente é uma ferramenta para interagirmos no mundo em que habitamos. Ela não é quem realmente somos, mas um produto da sociedade da qual fazemos parte. Quando em tenra infância ainda não temos desenvolvidas nossas capacidades intelectuais, a mente ainda está livre e pura. Assim, a criança vê o mundo e a si mesma do jeito que realmente são e não do jeito que parecem ser.
Todavia, a sociedade e o sistema vão moldando tais mentes e criando um número incontável de condicionamentos e crenças. Surge então uma autoimagem em cada indivíduo a respeito do que parecem ser, devido ao reflexo do mundo exterior. É aqui que nasce o falso eu, ou o ego.
Tornamo-nos então repetidores. Deixamos de ter um pensamento expansivo e adquirimos a linearidade mental, o que, para todos os meios, é a forma mais bruta de se perceber a realidade apresentada. E justamente por essa limitação linear, deixamos de ver o mundo como ele é, passando a ver apenas sua sombra projetada.
Contudo, nada é mais pernicioso do que o surgimento do falso eu e da criação descontrolada de imagens sobre si mesmo. A segurança do reconhecimento de si mesmo faz com que o falso eu, sempre em guerra para se autoafirmar, tome o controle de nossas vidas como se ele de fato fosse quem nós somos.
Mas não somos nossas mentes. Pouco do que é formulado pela mente tem origem em nós mesmos. O que pensamos, o que acreditamos, o que tememos, o que damos valor, o que achamos que é certo ou errado, tudo isso tem origem externa a nós. Todos os condicionamentos, crenças, morais, ideais e formas de comportamento não pertencem a nós, mas puramente à sociedade.
E justamente pelo falso eu acreditar que tudo isso é de sua autoria é que a humanidade perdeu a consciência de si mesma e se rendeu à ilusão do mundo.
Pois nossa natureza não é limitada. Ela não pode ser expressada em palavras, em simples símbolos interpretativos. Nosso Eu Profundo não se asemelha ao falso eu, nem a todos os seus questionamentos rudimentares. Aquilo que somos está além de qualquer coisa que a mente puder formular. E é por isso que para relembrarmos quem somos é necessário nos livrarmos das crenças, das autoimagens, da percepção de passado e futuro e de todos os apegos.
Apenas desconstruíndo todas as crenças e desprogramando todos os condicionamentos é que o ser humano poderá voltar a ser o criador que é, não mais a criatura. Somente assim voltará a ser o deus que é, não mais o animal pensante.
Marcos Keld.