ESTAR... Só!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Esteja você onde estiver, não crie nenhuma representação externa de que está mudando e tornando-se um religioso porque isto poderá criar problemas e você pode não estar suficientemente forte para enfrentá-los. Crie o conflito dentro de si, mas não o crie fora. O conflito interno é mais do que suficiente; ele lhe trará o crescimento e a maturidade necessários.
" ...o pai contra o filho e o filho contra o pai. E ambos permanecerão solitários".
Esta palavra "solitário" deve ser muito bem entendida. Quando alguém, se torna religioso, torna-se um solitário. A sociedade já não existe; ele está só. E aceitar a solidão é a grande transformação que pode lhe acontecer porque a mente tem medo de estar só, a mente precisa de outras pessoas para se agarrar, para se prender.
Sozinho, você sente um temor, um medo começa a tomar conta do seu ser; estando só, imediatamente você corre para a sociedade — ao clube, à conferência, à seita, à igreja: para qualquer lugar onde encontre a multidão, onde possa sentir que não está só, onde possa se perder na multidão. É por isso que a multidão se torna tão importante: ir à corrida de cavalos, ir ao cinema — a qualquer lugar onde haja multidão para que você não se sinta solitário, para que você possa relaxar.
Entretanto, um homem religioso é um solitário porque está tentando alcançar o pico mais alto. Ele não se perde nas outras pessoas. Tem de recordar-se, tornar-se mais cuidadoso, tornar-se mais consciente e alerta — e tem de aceitar a verdade. E a verdade é esta: todos são sós e não existe nenhuma possibilidade de qualquer relacionamento. Sua consciência é um pico solitário e esta é a beleza; não há nada a temer. Imagine o Everest no meio de uma multidão de Everests — toda a sua beleza estaria perdida. O Everest é belo e desafiador porque é único, porque é um pico solitário. Um homem religioso é como o Everest: um pico solitário, único, que vive e desfruta disso.
Isto não significa que ele não se movimente na sociedade. Não significa que ele não ame. Pelo contrário, só então ele pode amar, só então ele pode movimentar-se na sociedade porque só então ele é. Você não é — então, como pode amar? O religioso pode amar porque seu amor não é como uma droga que entorpece. Ele não se perde. Pode distribuir, pode dar-se completamente e mesmo assim permanecer íntegro. Ele pode dar-se e ainda assim não estar perdido porque sua consciência permanece no pico mais interno. E aí, nesse santuário, ele permanece só; ninguém entra, ninguém pode entrar aí.
No mais profundo centro do seu ser, você é só — existe a pureza da solidão, — a beleza da solidão...Mas você sente medo. Por ter vivido na sociedade — por ter nascido nela, por ter sido trazido para ela — esqueceu-se completamente de que também pode ser só. Assim, mover-se por alguns dias dentro da solidão, simplesmente sentir sua solidão, é belo. Depois vá ao mercado, mas leve sua solidão com você. Não se perca. Permaneça consciente e alerta.
Movimente-se na sociedade, caminhe no meio da multidão. Mas esteja só. Se quiser, poderá estar só no meio de uma grande multidão. Mas se quiser, poderá também estar no meio de uma grande multidão mesmo estando só. Poderá ir para o Himalaia, ficar lá sentado, e pensar no mercado — você estará no meio da multidão.
Você pode carregar a multidão: mas pode também estar na multidão e mesmo assim estar só. Tente isto: na próxima vez que estiver no meio de uma grande multidão, numa grande loja ou supermercado, sinta-se só — você é só; por isso não haverá problema, você conseguirá sentir-se assim. E se você conseguir, tornar-se-á um solitário. Jesus disse que veio para torná-lo solitário, para que fique só.
"Eu lhes darei o que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram, o que as mãos não tocaram e o que não surgiu no coração do homem".
Seus olhos podem ver tudo o que está fora, mas não o que está dentro, não há como. Seus ouvidos podem ouvir o que está fora, mas não o que está dentro, é impossível. Eles são externos. Todos os sentidos são externos. Não existe nenhum que seja interno. Por isso, quando todos os sentidos param de funcionar, de repente, você está voltado para o interior. Não existe nenhum sentido que esteja voltado para o interior.
Jesus disse: "Eu lhes darei o que os olhos não viram — mas antes, torne-se um solitário". E é isso que significa ser sannyasin: um solitário. Antes, torne-se um sannyasin, compreenda que é só — seja conforme essa solidão. Não tenha medo. Em vez disso, desfrute-a, veja o quanto é belo o silêncio, a pureza e a inocência. Aí não existe mácula porque ninguém penetrou nesse santuário. Ele é eternamente puro, é virgem, ninguém este aí.
Sua virgindade está oculta em seu ser. Torne-se um sannyasin, um solitário. Jesus disse: "Eu lhes darei o que os olhos não viram...". Quando você se torna solitário, um só, de repente, compreende o que nenhum olho pode ver, o que nenhum ouvido pode ouvir e o que nenhuma mão pode tocar. Quem pode tocar o Eu? Você pode tocar o corpo mas não o Eu. A mão não pode entrar na sua consciência — não existe como.
OSHO, “A Semente de Mostarda”.