Aceite, vivemos em um mundo feito de polaridades! É inevitável acordar com cara de maracujá amassado de vez em quando. É inevitável ficar gripado, com o nariz assado, mais parecendo um tomate rachado. É inevitável se sentir ridículo ao sofrer por amor vez ou outra na vida. Aceite, faz parte de nossa experiência enquanto seres humanos. Por aqui amor e medo andam de mãos dadas, bem como o prazer e o desprazer, a beleza e a feiúra, a alegria e a tristeza. Não há como escapar. Não há como ser alegre, saudável e belo e feliz 100% do tempo.
Desista!
O problema é que algumas pessoas simplesmente não desistem. Fingem que as coisas podem ser diferentes e andam pela vida em busca de uma galinha dourada que muge como uma vaca, anda de patins e escreve textos filosóficos em suas horas vagas!!! Querem acordar belos e radiantes, como acontece nas telas de cinema. Querem vidas impecáveis, como lençóis de linho branco que acabaram de ser passados a vapor (com cheirinho de baunilha, é claro!). Querem o amor imaculado que emana luzes douradas de uma perfeição divina.
Acredite no que vou lhe dizer. Essas são as pessoas que sofrem mais. Por mais que suas vidas tenham lá o seu charme, acham que nunca é o suficiente, que deveriam estar vivendo outra coisa ou estar em outro lugar, talvez com outro alguém. Pensam que uma vida feliz deve ser cinematográfica, com direito a “flashes” e pedidos de autógrafos. E assim, descartam sem perceber a única possibilidade de felicidade, que se encontrava lá, meio amassada, como um papel de bala, acomodada bem nas palmas de suas mãos.
Hoje eu acordei com os olhos inchados, parece até que levei um soco embaixo de cada olho. O gosto na boca é pior ainda, uma mistura de borra de café , boldo e óleo de rícino de bacalhau. Meu cabelo parece um ninho de urubús infestado de cupins e para ajudar não tinha água em casa, sei lá eu por quê.
Olho no espelho, e sei que tenho duas opções (viva a dualidade!)
Posso chorar, ou posso rir.
Posso chorar, ou posso rir.
Tenho preferido rir.
Antes que eu seja mal interpretada, tenho algo a esclarecer… Eu sei o quanto é importante entrarmos em contato com as profundezas da alma humana, com a intensidade da dor, com a verdade do que se passa dentro de nós. Sou psicóloga, lembram? Não tenho como evitar tudo isso. Penso que faz parte de uma existência significativa visitar com certa frequência o nosso mundo interno, esse lugar sagrado cravado no coração de uma floresta inexplorada. Mas esse lugar existe para ser “visitado”, para nos oferecer suas bençãos. Não foi feito para ser habitado o tempo todo, pelo menos neste planeta.
Precisamos aprender a mergulhar em nossa profundidade, resgatar de lá os nossos tesouros, na forma de sentimentos, colares de lágrimas talvez, e depois nos erguermos, leves e alados, sobre a copa das árvores, celebrando as nossas conquistas com um vôo pleno de alegria. Precisamos aprender a fazer uma dança entre o que se passa dentro e fora de nós. Mergulhar e respirar. Sorrir e chorar. Aprofundar e levitar.
Onde mesmo eu estava?
- Ah… Tenho preferido rir…
- Ah… Tenho preferido rir…
Eu sei que você muitas vezes encontra coisas difíceis quando mergulha em suas profundezas.
Mas hoje quero lhe dizer que você deveria tentar, rir mesmo quando o seu coração está apertado. No começo parece triste eu sei, como pode parecer triste a alegria do palhaço. Mas se você tiver alma de criança a coisa muda de figura. A criança, em sua deliciosa inocência, não fica o tempo todo se questionando se a alegria do palhaço é alegre mesmo. Ela simplesmente ri, e se diverte, e ao fazer isso faz os adultos rirem também, mesmo aqueles que estavam imersos em suas inúmeras e profundas questões filosóficas e existenciais.
Mas me dê um desconto… acordei com uma cara tão feia hoje, que se não conseguir rir vou me acabar de chorar, vou ter que gastar uma nota preta em cirurgia plástica, mais um tanto em cosméticos, maquiagem, terapias (nada contra terapia, gente… afinal sou terapeuta!) e antidepressivos.
Então, com sua permissão, hoje eu prefiro rir!