Os impulsos básicos e a Luz

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Os impulsos básicos ou vitais, inatos do ser humano, são aspectos naturais de nossa Sombra, responsáveis pela existência de uma vida harmônica e realizadora. Eles funcionam pelo prazer. Se reprimidos ou recalcados, isto é, sem a presença da Luz, geralmente na infância, sem dúvida comprometerão a realização futura da criança.
Por exemplo, com relação ao impulso da sexualidade, ou sensualidade. Vamos supor que ela aprenda dos pais que sexo é algo imoral, feio, pecaminoso e, por outro lado, o maior temor dela é perder a apoio e a consideração dos pais. O que mais a criança preza, nessa idade, é o apoio, a companhia, a consideração, a sensação de segurança, de proteção dos pais. Assim, ela vai evitar o assunto, inclusive os jogos sexuais tão naturais na sua idade. E mesmo que os faça às escondidas, o que geralmente ocorre, vai crescer com a crença de que há algo errado naquilo.
Tudo que se tiver com errado, imoral e ao mesmo tempo for contra a natureza, resultará em aspectos catastróficos, pois a Natureza sempre vence. Ao recalcar, na infância, a sexualidade, por extensão a sensualidade e a afetividade, em sua fase adulta toda essa área estará comprometida. Se o recalque for muito forte e a pessoa continuar agindo da mesma forma, ou seja, se ela não amadurecer, além de os relacionamentos amorosos, afetivos e sexuais se revelarem caóticos, somatizará doenças nas regiões do Corpo afetas à sexualidade, como os órgãos genitais, aparelho reprodutivo e seios. Por esse motivo, são tão comuns as ocorrências de problemas nos seios, na próstata, e no aparelho reprodutor. É que a pessoa alimenta a ilusão – falta de Luz – de que há algo mau, de imoral no sexo, mesmo de forma inconsciente. Isso se deve à cultura e principalmente à religião, que tratam a sexualidade com muitas restrições negativas. Sem dúvida, o reflexo dessa postura se estenderá à sociabilidade da pessoa.
É assim que os impulsos básicos podem se apresentar bem educados – com Luz – ou recalcados, bloqueados, reprimidos – sem Luz. Os bloqueios ou recalques ocorrem geralmente na infância, ocasião em que o mundo está se apresentando para a criança, período fertilíssimo para se fixarem as crenças e atitudes, em que ela se encontra ávida por entender tudo o que aparecer à sua volta. A falta de Luz é simplesmente coibir, censurar, não permitir que a criança aja de acordo com a sua Natureza, seu temperamento, sua espontaneidade no desempenho de suas atividades que envolvam impulsos naturais. Embora não pareça, a criança é possuidora de uma habilidade incrível, nesse período tão fértil, de selecionar, balancear, e gravar no subconsciente os fatos que lhes proporcionam lucros ou perdas, por mais insignificantes que sejam ante os olhos dos adultos. A partir daí inicia seu processo interior de repressão ou fluidez de determinado impulso básico.
Para que o recalque de um impulso natural comece a se estabelecer, não precisa necessariamente da existência de um fato marcante. Basta uma simples repreensão por parte de quem a criança elege como autoridade legítima, ou de quem ela reivindica o apoio, como os pais, avós, professores, amigos, autoridade religiosa. Repressões do tipo: para de correr que você vai cair! Isso não é coisa de criança. Para de perguntar moleque! Que coisa feia! Você ainda não aprendeu? Isso é pecado. Papai do céu não gosta. Sua irmã sabe mais que você. SE a repreensão ou a censura vier acompanhada de agressão física, ou então, com o tom de voz alterado, o bloqueio se mostrará mais forte. Claro que a criança precisa saber de seus limites. Aliás, assim como é fundamental que os impulsos básicos não sejam reprimidos, também o é o estabelecimento de limites por parte dos adultos, para o bom desenvolvimento de certos aspectos futuros, como a segurança, a facilidade de concentração, a responsabilidade, o conhecimento de até aonde vão seus direitos, a individualidade, etc.
O impulso do domínio ou agressividade é responsável pela manutenção a saúde física, pela sobrevivência, pela defesa, pelo poder. No mundo animal esse impulso é claramente percebido. A raiva é uma emoção originária desse impulso. Quando desgovernada e transformada em ódio torna-se bastante caótica, provocando muito sofrimento na vida da pessoa. Significa que é um poder de Sombra sem Luz. A raiva bem direcionada, a que está integrada com a Luz, como por exemplo para a coragem, para a ousadia, para o arriscar-se, para a convicção, para a determinação, para a certeza absoluta, transforma-se numa poderosa e eficiente força, resultando em feitos magníficos. Trata-se simplesmente do desenvolvimento do poder, da segurança, da soberania da pessoa.
A agressividade recalcada, cujo recalque pode ter se iniciado lá na infância devido à simples colocação de que: é feio ficar bravo com os outros ou você tem que obedecer aos mais velhos, ou seja bonzinho com os outros ou ainda não seja egoísta, resultará, provavelmente, em um adulto com pouca ou sem iniciativa. A pessoa poderá crescer sem coragem de dizer não, tornar-se o típico bonzinho, sem poder. Poderá se tornar uma pessoa que teme magoar os outros, que não se impõe, dominada, submissa, que perde o controle facilmente, que se desculpa com frequência, que não tem opinião própria, que evita o confronto e a realidade, que não tem confiança em si e na vida. Poderá desenvolver fobias e inseguranças, restando, por conseguinte, com a saúde prejudicada. Trata-se da pessoa que prefere não ir para não sofrer, sem saber que já sofre por não ir.
Sexualidade ou sensualidade
O impulso da sensualidade não diz respeito apenas à sexualidade, embora este seja um dos seus componentes mais fortes. O sensual está no falar, no andar, no dançar, no tocar um instrumento, no cantar, no fazer, no pintar, no modo de se vestir, de se perfumar, enfim, em tudo de que o Corpo participa, pois O Corpo por si só é sensual. A sexualidade é uma presa muito fácil da repressão, tendo em vista o fato de nossa cultura e religião terem-na como próximo do imoral, do feio e do pecaminoso.
O impulso da sensualidade é responsável pelo prazer, pela sociabilidade, pela procriação, pela reencarnação, pela produção do ectoplasma. Quando bloqueado – ausência de Luz – a pessoa poderá se tornar perfeccionista, tender a ver-se imperfeita, feia, com medo do sentir, principalmente de transar. Poderá culpar-se bastante, ter medo da intimidade, de amar, ter a afetividade prejudicada, se relaxada na aparência, ter uma autoestima baixa, perder o prazer nos diversos aspectos da vida, e provavelmente desenvolver disfunções sexuais e diversas doenças psicossomáticas.
A pessoa que tem a Luz e a Sombra em equilíbrio nessa área é alegre, vive de bem com a vida e é muito querida. Pudera! Quem não gosta de quem esbanja sensualidade em tudo o que faz? Quem não deseja ter junto de si quem emana energia nutritiva? Quem não gosta de desfrutar a presença de uma pessoa amorosa, afetiva, compreensiva, amigável?
Há uma situação muito particular com relação ao impulso da sexualidade, que é aquela referente aos que optaram pela abstinência sexual, geralmente por motivo religioso, espiritual. Esse fato é conhecido por sublimação do sexo. Se a pessoa estive convicta de que sua opção é pertinente, a energia sexual e toda sua sensualidade serão canalizadas a outras áreas, em geral, para as artes – presença da Luz -, não raro destacando-se no que faz. A história está cheia desses exemplos. A energia sexual não vai se estancar provocando doenças. A sensualidade tem sua fluência natural. Todavia, se a pessoa cultivar dúvida a respeito, ao mesmo tempo em que reprime a sexualidade, a energia será canalizada para as ilusões, com consequências físico-emocionais muito dolorosas.
Luiz Gasparetto, “Revelação da Luz e das Sombras”.